Genocídio

Violência no Rio já vitimou 682 mulheres desde 2017, com 15 grávidas

Plataforma Fogo Cruzado mostra violência crescente contra mulheres na região metropolitana do Rio. Caso mais recente tirou a vida de Kathlen Romeu, grávida de quatro meses, atingida na cabeça durante operação policial

Arquivo pessoal/Reprodução
Arquivo pessoal/Reprodução
A designer de interiores estava caminhando na rua com a avó quando foi atingida pelo tiroteio provocado por mais uma operação policial desastrosa no Rio

Brasil de Fato – A morte da designer de interiores Kathlen Romeu, grávida de quatro meses, nesta terça-feira (8) é a oitava morte de gestante na Região Metropolitana do Rio de Janeiro (Grande Rio) desde 2017. Também é a ponta mais trágica da violência que vitima cada vez mais mulheres na região. Segundo a Fogo Cruzado, plataforma que compila dados de segurança pública no estado, 681 mulheres haviam sido baleadas no Grande Rio até março passado. Destas, 258 não resistiram e morreram. Além disso, 15 delas foram atingidas quando estavam grávidas – sete delas e nove dos bebês morreram.

Segundo a Fogo Cruzado, apesar de todas terem sido vítimas da violência armada, as 15 grávidas baleadas na Grande Rio foram sofreram de diferentes formas: 6 delas foram atingidas por balas perdidas, quatro foram alvo de execução/homicídio, três foram baleadas durante roubo ou tentativa de roubo, uma foi encontrada morta a tiro, mas com indícios de tortura e uma outra não teve motivação identificada. 

Letalidade é maior em operações

Os motivos dos tiroteios que mais deixaram mulheres baleadas foram operação ou ação policial, que fez 194 vítimas ao todo (45 mortas e 149 feridas). Roubo e tentativa de roubo veio em seguida, totalizando 117 vítimas (34 mortas e 83 feridas). Homicídio e tentativa de homicídio (111 vítimas: 74 mortas e 37 feridas); execução e tentativa de execução (68 vítimas: 59 mortas e 9 feridas).

Vítimas mulheres em disputa entre facções/milícias somam 36, sendo 13 mortes e 23 feridas. Em apenas 10% dos casos, não foi possível identificar as circunstâncias dos disparos.

Quase metade das mulheres baleadas na Região Metropolitana do Rio foram atingidas por balas perdidas. Foram 314 vítimas que não tinham nenhuma participação ou influência direta nos tiroteios, mas que sofreram igualmente com os efeitos da violência armada: 59 delas morreram.

Chama atenção também que 12% das vítimas (85 mulheres) foram baleadas quando estavam dentro de casa: destas, 49 morreram. E outras 11 eram agentes de segurança: 7 morreram.

Ação da UPP

A designer de interiores Kathlen Romeu estava grávida de quatro meses e foi baleada na cabeça durante confronto no Complexo do Lins, na zona norte do Rio. Ela estava caminhando na rua com a avó próxima à localidade conhecida como Beco da 14 quando teve início o tiroteio. A jovem chegou a ser socorrida e levada por policiais para o Hospital Salgado Filho, no Méier, mas não resistiu.

Em nota, a Polícia Militar afirmou que não estava sendo realizada uma operação, mas que fazia patrulhamento de rotina da UPP quando o carro foi alvo de tiros.

Em entrevista à TV Globo na manhã desta quarta-feira (9), o pai de Kathlen disse que há um mês decidiu tirar a filha da comunidade, onde vive a avó, por conta da frequência de tiroteios no local. “Noventa e nove por cento da comunidade são pessoas de bem. A mesma operação que tem constantemente na nossa área não tem na zona Sul. Eu tirei ela de lá por causa da violência. Minha filha era a coisa mais especial da minha vida. Uma pessoa do bem, inteligente”, disse o pai de Kathlen.

Indignação por Katlhen Romeu

Desde o anúncio da morte de Kathlen Romeu, nas redes sociais a hashtag #Kathlen passou a ser um dos assuntos mais comentados em todo o Brasil, com repercussão entre políticos e artistas. Anielle Franco disse que lembrou da irmã, a vereadora Marielle Franco, executada em março de 2018, no Rio Comprido, região central do Rio. “Não consegui dormir quase nada pensando na família da Kathlen. Fiquei pensando na primeira noite sem minha irmã. Depois pensei naquela ida fatídica ao IML (Instituto Médico Legal) que precisei fazer. Mari nutria sonhos. Kathlen carregava o seu. É sonho atrás de sonho sendo interrompido. Que dor!”, escreveu Anielle.

Protesto

Um ato em frente ao Palácio Guanabara, sede do governo estadual, está marcado para esta quarta-feira (9), às 18h. O protesto é contra a política de segurança que vem sendo colocada em prática pelo governador Cláudio Castro (PSC) durante a pandemia.

A organização do ato recomenda que todos estejam de máscaras e que levem álcool em gel para higienização das mãos. Na chamada para o protesto, os organizadores lembraram que o governo vem desrespeitando decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que impede ações policiais em comunidades durante a pandemia.

“Leve sua vela, seu cartaz, sua dor e revolta! Encheremos o Palácio Guanabara com símbolos que representam a política de morte que este governo produz todos os dias em nossas favelas e periferias. O governador Cláudio Castro e sua polícia vêm afrontando o STF e descumprindo a liminar de suspensão das Operações Policiais no Estado do RJ”, afirmam os organizadores.


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