Exemplo

Camponeses resistem ao governo de direita na Índia com mobilização histórica

Agricultores se mantêm unidos há mais de seis meses para derrubar leis que colocam a sobrevivência em xeque. Nem mesmo a pandemia tem sido capaz de intimidar a luta dos trabalhadores

Vikas Thakur / Instituto Tricontinental de Pesquisa Social
Vikas Thakur / Instituto Tricontinental de Pesquisa Social
Camponesas do Punjab e Haryana protestam na fronteira de Tikri, em Dehli, dia 24 de jeniro de 2021

São Paulo – A Índia convive hoje com uma mobilização histórica de camponeses, que não se intimida frente ao caos sanitário do país durante a pandemia. Representados por cerca de 500 organizações, os agricultores têm se mantido unidos há mais de seis meses na luta por direitos. A resistência surgiu depois que o governo do primeiro-ministro Narendra Modi, junto com o partido de extrema direita Bharatiya Janata (BJ), aprovou, em setembro de 2020, três leis que afetam diretamente o setor agrícola. Não houve consulta prévia às organizações de agricultores e não se permitiu nenhuma discussão no parlamento.

O que está em questão é a sobrevivência dos agricultores. Eles recusam o valor do preço mínimo garantido de apoio (PMGA) fixado pelo governo, um valor que não cobre as necessidades dos agricultores para as colheitas da época de chuvas. Atualmente no país, cerca de 52 camponeses se suicidam a cada dia.

A situação dramática dos agricultores e a mobilização histórica que virou exemplo de luta para o mundo é retratada em um dossiê produzido por uma instituição internacional, impulsionada pelas organizações populares e políticas da Ásia, África e América Latina.

O chamado Dossiê 41 do Instituto Tricontinental de Pesquisa Social analisa a atual crise agrária na Índia, as condições históricas que levaram a essa crise, e como os camponeses se articularam, levando milhares às ruas, e protagonizando a maior greve da história do país.

Um contigente de tratores na rodovia GT Karnal fura as barricadas e entra em Dehli, iniciando um enfrentamento entre os manifestantes e a polícia, 26 de janeiro de 2021 Vikas Thakur / Instituto Tricontinental de Pesquisa Social
Um contigente de tratores na rodovia GT Karnal fura as barricadas e entra em Dehli, iniciando um enfrentamento entre os manifestantes e a polícia, 26 de janeiro de 2021
Vikas Thakur / Instituto Tricontinental de Pesquisa Social

O documento mostra que os agricultores, percebendo que as leis favoreciam as grandes corporações comerciais da Índia, iniciaram uma onda de protestos – que sobrevivem nas ruas mesmo com a crise sanitária.

A Índia enfrenta a segunda onda da pandemia de Covid-19, com mais de 400 mil casos por dia no mês de maio. O sistema de saúde está em colapso, com leitos hospitalares lotados e cilindros de oxigênio vazios. Mas os protestos não diminuíram.

O dossiê revela, por meio de depoimentos, a determinação dos indianos em resistir, tendo em vista que o governo se recusa a recuar.

O documento analisa, portanto, a luta do campesinato indiano por sua sobrevivência – revirada por três décadas de reforma neoliberal, e como as três leis agrícolas de Modi podem pôr fim aos restos da vida agrária do campesinato, entregando o controle do setor às corporações e à cadeia de abastecimento global, como as famílias Ambani e Adani.

Qual é a crise agrária?

É uma condição crônica cujos sintomas são variados: as contingências da agricultura, incluindo quebras de safra, que resultam em rendas baixas a negativas, endividamento, subemprego, expropriação e suicídio. O dossiê traça as causas dessa crise, que não são difíceis de detectar, mas que remontam aos dias de domínio colonial britânico e aos fracassos do novo Estado indiano após a independência em 1947.

:: Leia o dossiê na íntegra ::


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