violência

Polícia mata mais de duas pessoas por dia em São Paulo

Relatório da Ouvidoria das Polícias de São Paulo aponta para 780 mortos em decorrência de ações das polícias civil e militar no estado

arquivo/ebc
arquivo/ebc
Dos 780 mortos, 56,2% são pretos e pardos, e 33% brancos. O racismo da instituição é reconhecido pela Ouvidoria

São Paulo – A Ouvidoria das Polícia do estado de São Paulo divulgou um relatório hoje (31) sobre a violência nos municípios ao longo de 2020. Entre os dados levantados, destaque para a atuação violenta da Polícia Militar paulista, que no ano passado matou 780 pessoas, uma média superior a duas vítimas por dia. Também aumentou o número geral de mortes violentas no estado, passando de 3.209 em 2019 para 3.339, em 2020 (4% a mais no período).

Entre as vítimas de policiais, o relatório aponta para o recorte de raça e cor. Dos 780 mortos, 56,2% são pretos e pardos, e 33% brancos – os cerca de 10% que completam o dado se enquadram em “outros” no relatório, e incluem asiáticos e indígenas. O racismo da instituição é reconhecido pela Ouvidoria, que aponta que existem trabalhos em andamento para combater esse preconceito. “A questão do racismo estrutural é pauta urgente para a sociedade e para as polícias no Estado de São Paulo, e por isso o diálogo com esses setores para que as ações da polícia não tenham vítimas é fundamental”, destaca o documento.

Flagrantes

O relatório da Ouvidoria é divulgado em um dia em que ações violentas de policiais viralizaram nas redes sociais. Entre eles, militares na cidade de Caieiras, na Grande São Paulo, abordam aos xingamentos um grupo de jovens pretos. Por fim, em claro excesso diante de uma situação controlada, um dos policiais – depois de perceber a chegada de outros soldados – dá um soco no rosto de um dos abordados, que cai já desmaiado. A Ouvidoria se manifestou sobre o caso e pediu que os envolvidos respondam por lesão corporal, abuso de autoridade e racismo.

O ato de abuso dos policiais aconteceu no sábado (29). O comando da Polícia Militar também informa que os militares já foram afastados das ruas. O ouvidor das polícias, Elizeu Soares Lopes, classificou a ação como “irregular” e que estaria configurado “crime de injúria racial”.”Há sim elementos indiciários do cometimento do crime de racismo por parte dos policiais, uma vez que adotaram conduta neste sentido pelo menos minimamente, ao cometerem a injúria de cunho racial em face dos envolvidos”, disse Lopes.

Além da violência desnecessária, os policiais tentaram fraudar o local dos abusos. Na tentativa de apagar provas, tomara os celulares dos presentes e apagaram os vídeos. Depois disso, jogaram os dispositivos no lixo. Entretanto, eles foram encontrados e recuperados da lixeira do celular.

Cenário atípico

O aumento nas mortes por violência encerrou com um período de dois anos de queda nos indicadores. Já com relação ao número comparado de mortos por policiais entre 2019 e 2020, houve uma redução, já que no ano anterior, foram 845 mortos pelas polícias. Além de ações para combate ao racismo nas polícias, a Ouvidoria aponta como responsável por alterações nos dados a pandemia de covid-19.

“O cenário da pandemia de coronavírus levou à necessidade de compreensão de um cenário institucional atípico (horários reduzidos, restrições) e de uma sociedade em reorganização”, aponta o ouvidor. Entre as alterações apontadas pelo relatório, estão medidas protetivas com os policiais, além de mudanças nos protocolos de ação para proteção dos cidadãos. “De março até dezembro de 2020 a estrutura, o atendimento e a dinâmica da Ouvidoria foram alterados. Por um lado, proteger a vida dos servidores e técnicos em trabalho e, por outro preservar a vida dos cidadãos que procuram a Ouvidoria foi uma preocupação constante.”