Pandemia e fome

Movimentos se unem em campanha de arrecadação de alimentos para periferia paulistana

CMP, a Marcha Mundial das Mulheres e o Movimento dos Atingidos por Barragens lançam nesta sexta (28) a iniciativa “São Paulo Quer Comida: Ação Solidária”. Produtos e recursos arrecadados serão revertidos às famílias em situação de insegurança alimentar

Arquivo EBC
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"Estamos numa situação de abismo social, de tragédia. (...) Não temos outra alternativa a não ser se organizar e promover ações de solidariedade", diz Raimundo Bonfim

São Paulo – A Central de Movimentos Populares (CMP), a Marcha Mundial das Mulheres (MMM) e o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) lançam nesta sexta-feira (28) a campanha de solidariedade “São Paulo Quer Comida: Ação Solidária nas Periferias”, para arrecadar alimentos e materiais de higiene e limpeza às famílias que enfrentam os efeitos econômicos e sociais da pandemia de covid-19 nas franjas da capital paulista.

Há mais de um ano na linha de frente, as entidades vêm acompanhando de perto o aumento do desemprego e da redução de renda entre os mais pobres. Problemas, apontam, que se agravaram diante da falta de um auxílio emergencial adequado, que caiu de R$ 600 para o mínimo de R$ 150. A situação, ainda segundo os movimentos, lançou mais milhares de famílias da cidade de São Paulo no quadro de insegurança alimentar. De acordo com Inquérito Nacional da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Rede Penssan), são quase 117 milhões de pessoas nessa situação de falta de acesso pleno e permanente aos alimentos. 

Os dados ainda revelam que há um contingente de 19,1 milhões de brasileiros que efetivamente passam fome, em um quadro de insegurança alimentar grave. Preocupados com essa situação, as entidades decidiram ampliar as ações de solidariedade. É o que destaca o coordenador estadual do MAB, Diego Ortiz, em entrevista a Marilu Cabañas, do Jornal Brasil Atual.

A campanha contra a fome

“Iniciamos essa campanha no sentido de ajudar o nosso povo a se sustentar nesse momento tão importante”, conta, destacando que os alimentos e materiais de higiene e limpeza serão destinados às comunidades em que as três entidades atuam, espalhadas em todas as regiões de São Paulo. 

Para alcançar o maior número de famílias, contudo, os movimentos demandam doações físicas, que podem ser feitas em pontos de coleta em diferentes locais, e também de recursos financeiros. Por meio de uma campanha virtual e transferência bancária, as entidades tentam arrecadar R$ 200 mil. Todo o dinheiro levantado será revertido para a compra dos produtos. As ações e a prestação de contas serão periodicamente divulgadas no site do Movimentos Contra Covid-19

Ações são um protesto

À Rádio Brasil Atual, o coordenador da CMP e da Frente Brasil Popular, Raimundo Bonfim, observa que “essas ações de solidariedade também são uma forma de protesto”. “Porque quando a gente se organiza para recolher uma cesta básica, um recurso em espécie, estamos fazendo uma denúncia. ‘Está aí o abandono do governo federal, o desemprego, a concentração de riquezas'”, avalia. “E ao mesmo tempo faz com que essas pessoas possam potencializar a organização de bairro, a associação dos moradores, o grupo local. Para que além dessa ação de solidariedade, a gente desperte a consciência de classe, consciência cidadã, para lutarmos pelos nossos direitos.” 

Bonfim ressalta que o problema da fome está diretamente relacionado à destruição das políticas sociais, sobretudo na atual gestão do governo federal. Por conta disso, a campanha de solidariedade de arrecadação de alimentos também faz parte da luta pelo “Fora Bolsonaro”. O movimento que cobra o impeachment do presidente volta a tomar as ruas do país neste sábado (29).

“Estamos numa situação de abismo social, de tragédia num país tão rico como o nosso, mas com tanta desigualdade social, fome e miséria. Não temos outra alternativa a não ser se organizar e promover ações de solidariedade como essa campanha”, conclui o coordenador do Central dos Movimentos Populares. 

Você pode acessar a vaquinha virtual e os dados bancários, clicando aqui

Os pontos para a entrega de alimentos também podem ser conferidos neste link

Confira a entrevista

Redação: Clara Assunção