Silenciada

Nassif: ‘Temos uma imprensa que não defende o país’

Jornalista recebe nesta quarta-feira (7) o Troféu Audálio Dantas, pelos serviços prestados à democracia ao longo da sua carreira

Reprodução/TVT
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Nassif vem sendo alvo de uma série de ações judiciais que buscam inviabilizar o seu trabalho

São Paulo – Para o jornalista Luis Nassif, que comanda o Jornal GGN, o Brasil vive hoje um clima de cerceamento à liberdade de expressão equivalente àquele vivido durante os tempos da ditadura. Além da ofensiva jurídica movida por políticos e integrantes do poder Judiciário contra jornalistas, como ele, que publicam matérias denunciando “escândalos” e “negociatas” envolvendo o dinheiro público, outro problema é que os veículos da imprensa tradicional se aliaram a agentes do mercado financeiro, que participam ativamente dessas jogadas suspeitas. “Temos um país que não é defendido pela imprensa”, disse Nassif, em entrevista a Marilu Cabañas, para o Jornal Brasil Atual desta quarta-feira (7).

Ele ressalvou que, durante a pandemia, a imprensa tem cumprido papel relevante, defendendo as medidas sanitárias no combate à covid-19. “Mas as grandes jogadas, o que estão fazendo com o país hoje, em negociatas por todos os cantos, é algo escandaloso, com consequências terríveis para o futuro. A destruição das empresas públicas, como a Petrobras, e os negócios da privatização, por exemplo. E não temos uma imprensa que faça essa defesa. E quem faz essa defesa é invisibilizado”, afirmou.

Para Nassif, a chamada mídia tradicional “se tornou dependente dos grandes financistas, dos bancos de investimentos”. Com isso, denúncias que revelam esses escândalos são “silenciadas”. O jornalista disse ainda que esse “pacto do silêncio” vem desde 2016, na construção do golpe do impeachment da presidenta Dilma Rousseff.

Também nesta quarta, Dia do Jornalista, Nassif recebe o Troféu Audálio Dantas – Indignação, Coragem e Esperança, pelo trabalho prestado em defesa da democracia, justiça, direito à informação e liberdade de expressão.

Guerra Jurídica

No ano passado, o Jornal GGN teve 11 matérias sobre o banco BTG Pactual censuradas por decisão de um juiz do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Uma das reportagens retiradas do ar denunciava a venda, com 90% de desconto, àquele banco, de um carteira de créditos do Banco do Brasil. Outro caso envolveu licitação “com cartas marcadas” vencida pelo BTG Pactual para operar o sistema de Zona Azul eletrônica na cidade de São Paulo.

Posteriormente, nas instâncias superiores, a censura foi derrubada. Mas, à Rádio Brasil Atual, Nassif citou também outros casos em que a Justiça tem imposto a ele o pagamento de indenizações de milhares de reais, favorecendo os responsáveis pelas negociatas que suas reportagens apontam. Por exemplo, ele foi condenado a pagar R$ 40 mil reais por difamação ao ex-presidente da Câmara e ex-deputado federal Eduardo Cunha.

Essas decisões têm resultado, inclusive, no bloqueio de contas pessoais e profissionais de Nassif, colocando em risco o seu sustento e o desenvolvimento do seu trabalho como jornalista. “É um cerco não apenas para te impedir de fazer jornalismo. Mas para te impedir de viver”, denunciou.

A premiação

A premiação é uma iniciativa conjunta da Agência Sindical, do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé e da Oboré Projetos Especiais. Posteriormente, a partir de 2018, o troféu passou a levar o nome de Audálio, que foi presidente Sindicato dos Jornalistas Profissionais de São Paulo durante os anos de chumbo da ditadura.

Além de Nassif, também receberão o Troféu Audálio Dantas os jornalistas Mara Régia e Jamil Chade. A transmissão será nesta quarta (7) realizada a partir das 19h, no canal do Youtube da Oboré, com retransmissão pela TVT, a partir das 22h30.

Assista à entrevista

Redação: Tiago Pereira