Trabalhadores em risco

Mais da metade da frota de ônibus deixou de operar no Rio de Janeiro durante a pandemia

Estudo revela que, no último ano, 37 linhas regulares desapareceram sem aviso prévio das ruas da cidade

Fernando Frazão/EBC
Fernando Frazão/EBC
Apenas 40% da frota prevista em lei circula pela cidade do Rio de Janeiro. Vidas dos trabalhadores mais pobres, que dependem do transporte coletivo, ficam em risco com superlotação

São Paulo – Menos da metade da frota de ônibus contratada pela prefeitura do Rio de Janeiro atendeu a população carioca nos últimos 12 meses. De acordo com a segunda edição do relatório De Olho no Transporte, recém-lançado pela Casa Fluminense – espaço de construção de políticas e ações públicas com foco na redução das desigualdades –, houve uma “brusca redução” da frota em circulação. Pelo menos 37 linhas desapareceram sem aviso prévio durante o período de pandemia. 

A lei determina que as empresas de transporte coletivo devem operar com 80% de toda a frota nas ruas e 20% em reserva técnica. O estudo aponta, no entanto, que até fevereiro de 2020, apenas 55% da frota prevista estava operando. Em números absolutos, 81 linhas de ônibus já estavam fora de circulação à época.

Um ano depois, o total de linhas extintas aumentou para 118. Uma queda para 40% da frota total que deveria circular pela cidade, ou seja, menos da metade. Em entrevista à repórter Viviane Nascimento do Seu Jornal, da TVT, a coordenadora de Informações da Casa Fluminense, Cláudia Cruz, advertiu que a redução de linhas do transporte coletivo, em meio à crise sanitária, provoca aglomerações. “Com aglomeração, há maior facilidade de contaminação pelo vírus. Também são facilitadas as situações de importunação sexual, que é um tipo de violência que acomete as mulheres, principalmente. E com esse transporte superlotado há insegurança, porque as pessoas viajam em situações muitas vezes precárias”, critica a coordenadora. 

Problema estrutural

O estudo evidencia que a pandemia agravou um quadro que já era ruim, marcado por um transporte caro, escasso e de baixa qualidade que coloca em risco a vida dos trabalhadores cotidianamente. “Esse é um problema estrutural, não da pandemia. É um problema operacional e de financiamento. A gente precisa rediscutir o financiamento desse sistema de transporte que onera mais a população pobre, que têm um custo maior da sua passagem e compromete mais seu rendimento mensal do que as pessoas com condição socioeconômica melhor que não dependem tanto do transporte (coletivo). Esse sistema não é sustentável pela população”, adverte Cláudia. 

Os cortes nas linhas também prejudicam a circulação dos ônibus intermunicipais no Rio. Segundo o relatório, algumas linhas deixaram de atender a região metropolitana após o início da pandemia, em março do ano passado. 

Confira a reportagem na íntegra 


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