Movimentos protestam contra despejo em Mauá de mulheres vítimas de violência e sem-teto
Prédio que há quatro anos é sede da Casa de Referência para Mulher Helenira Preta e da Ocupação Manoel Aleixo, que abriga mais de 40 famílias, está sendo leiloado sem nenhum aviso sobre a função social do espaço
Publicado 23/04/2021 - 16h46
São Paulo – Os movimentos de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) e das Mulheres Olga Benário marcharam pelas ruas do centro de Mauá, no Grande ABC Paulista, nesta quinta-feira (22) contra o leilão do prédio que há quatro anos sedia a Casa de Referência para Mulheres Helenira Preta e a Ocupação Manoel Aleixo, que é moradia para mais de 40 famílias. As organizações cobram a suspensão da venda do terreno que pode levar ao despejo mulheres e sem-teto. De acordo com elas, o prédio foi colocado para leilão pela prefeitura de Mauá sem nenhum contato prévio com os movimentos.
Anunciado em março, o prédio é avaliado em mais de R$ 8 milhões sem nenhum aviso sobre a função social que o espaço cumpre. A venda diz apenas que o espaço está ocupado. As organizações denunciam que o terreno onde as ocupações funcionam esteve abandonado por mais de 10 anos.
O local foi primeiro ocupado em 2018 pelo Movimento de Mulheres Olga Benário que revitalizou o espaço. A organização vinha negociando desde 2017 com a gestão do então prefeito Átila Jacomussi (PSB) a implementação de uma casa de referência para atender mulheres em situação de violência. O município, no entanto, não cumpriu o acordo, e o prédio seguiu sob a ocupação do movimento. De lá para cá, já são centenas de vítimas da violência de gênero atendidas. Atualmente, além do centro de referência e da ocupação de moradia, o prédio também é sede da “brigada de solidariedade”. Uma iniciativa que ocorre desde o início da pandemia, em março do ano passado, para a entrega de cestas básicas em favelas e apoio no cadastro para o recebimento do auxílio emergencial e em serviços jurídicos, sociais e sanitários.
Serviços em risco
“Nenhum oficial de Justiça foi a nossa casa perguntar qual é o trabalho que a gente faz. Um trabalho que inclusive faz o que é dito na Constituição como o que deveria ser feito, o direito das mulheres viverem. Porque a nossa casa salva a vida de mulheres do estado de São Paulo”, contesta uma das organizadoras do espaço, Amanda Bispo.
Para marcar a indignação com o caso, os manifestantes marcharam da ocupação, na Vila Bocaina, até o Paço Municipal, onde foram recebidos por os vereadores que se comprometeram a convocar uma audiência pública sobre o tema para a próxima terça (27). A comissão do protesto também reivindica instauração de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o processo de leilão. Os movimentos também cobram diálogo com o atual prefeito Marcelo Oliveira (PT) para que possam debater a continuidade do trabalho das ocupações.
Nas redes sociais, a luta das organizações também conta com o apoio por lideranças de todo o país. A deputada Fernanda Melchionna (Psol-RS) critica o projeto de remoção em meio ao recorde de infecções e morte pela covid-19. “Em momento de pandemia, a pior que o Brasil já viveu, que aumenta os casos de feminicídio e de violência contra as mulheres, o governo de Mauá levar esse projeto de leilão, vai despejar um dos poucos serviços de referência às mulheres vítimas de violência. É inadmissível”, enfatizou a deputada.
Em paralelo, os movimentos também estão recolhendo, de forma online, assinaturas para uma carta aberta que cobra a suspensão da venda do prédio.