Caso Volkswagen

Fernando Morais: as pessoas precisam voltar a brigar pela democracia

Em debate virtual, jornalista e escritor destaca importância de acordo sobre colaboração da montadora com a ditadura

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Funcionário da Volks, Lúcio Bellentani foi preso na própria fábrica em 1972, Sua trajetória virou tema de documentário alemão

São Paulo – Em live sobre o acordo envolvendo a Volkswagen e o reconhecimento da colaboração da empresa com a ditadura, a discussão recaiu sobre manifestações recentes de apoio ao regime de 1964. Para o jornalista e escritor Fernando Morais, assim que for possível será preciso retomar as manifestações de rua, “para que as pessoas voltem a brigar pela democracia”. Ele citou frase conhecida do ex-deputado Ulysses Guimarães. “A única coisa que assusta essa gente é povo na rua. Na hora que puder tirar a máscara, vamos todos pra rua.”

Ele ressaltou a importância do acordo da Volkswagen para a história brasileira. “Vai mexer com o papel das multinacionais, das grandes corporações. Havia uma rede de empresas, grandes empresas, a maioria transnacionais, e multas delas nacionais, algumas até estatais, que estavam entregando trabalhadores pro DOI-Codi, pro Dops. E não era trabalhador que estava montando núcleo terrorista, guerrilheiro. Era gente que estava ali disputando salário melhor”, afirmou Morais. “A ditadura matou um monte de gente, roubou direitos, roubou salário do trabalhador”, acrescentou.

Lula foi “dedado”

Morais lembrou que o próprio Luiz Inácio Lula da Silva, quando líder metalúrgico, foi “dedado” pela Volkswagen, apesar de ser funcionário da Villares – autor de biografias, ele está escrevendo um livro sobre o ex-presidente. O jornalista destacou outros aspectos da colaboração da montadora com a ditadura, como a presença de Franz Paul Stangl, um oficial nazista que comandou campos de extermínio, na área de segurança da empresa no Brasil. “Vocês (metalúrgicos) estão escrevendo um capítulo dramático da história do país, dos trabalhadores do Brasil.”

Wagnão, Tarcísio e Fernando Morais: acordo tem relevância histórica

O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Wagner Santana, o Wagnão, relatou uma série de golpes da história brasileira. Ele destacou a relevância do acordo da Volks, a primeira a reconhecer sua colaboração com o regime. “Não da forma que a gente gostaria, mas é a primeira empresa privada a reconhecer sua participação. Um passo extremamente importante”, ressaltou Wagnão, que assinou o acordo hoje (6). “O que eles (atuais metalúrgicos) têm hoje não foi dado, foi duramente conquistado.”

Cumplicidade exposta

Foi o “acordo possível”, reafirmou o presidente da Associação Heinrich Plagge (que reúne ex-funcionários da Volks), Tarcísio Tadeu Garcia Pereira, que também assinou o acordo. “Coloca as vísceras da cumplicidade das empresas, sobretudo as multinacionais, com o regime militar”, acrescentou Tarcísio, que entrou aos 15 anos na montadora. Ele foi aprendiz de ferramenteiro de Lúcio Bellentani, um dos símbolos do movimento. Ex-funcionário, preso na própria fábrica e torturado, ele morreu em 2019, durante as negociações envolvendo a empresa e o Ministério Público. Seu caso foi retratado em documentário feito na Alemanha e lançado em 2017. Para Tarcísio, a conclusão do caso pode ajudar a agilizar processos envolvendo outras empresas.

Confira aqui o relatório final do MP sobre o caso Volks.


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