Desgoverno

CPI da Covid ouve indígenas sobre omissão de Bolsonaro na pandemia

Comunidades tradicionais apresentam documento com 15 denúncias sobre o governo, como o incentivo ao uso de cloroquina

Antonio Cruz / Ag. Brasil
Antonio Cruz / Ag. Brasil
Bolsonaro resiste à demarcação de terras indígenas e não atuou para proteger as comunidades tradicionais na pandemia

São Paulo – Um documento enviado à CPI da Covid por indígenas, com mais de 15 tópicos a serem apurados pela comissão, denuncia ações e omissões por parte do governo Bolsonaro dentro das comunidades. Entre as acusações, está a instrução do próprio Ministério da Saúde para o uso de ivermectina e cloroquina por índios do Amazonas que apresentassem sintomas de covid.

Nesta sexta-feira, senadores se reúnem virtualmente com representantes dos povos indígenas, que apresentarão as denúncias sobre as omissões ou ações do governo federal que afetaram suas comunidades.

O documento indica que o Ministério da Saúde incentivou o uso de ivermectina e cloroquina por indígenas. Além disso, houve a propagação do vírus com a presença de não indígenas nas aldeias.

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Para representar os povos originários como os indígenas na CPI da Covid, estarão a deputada federal da Rede de Roraima e coordenadora da Frente Parlamentar em Defesa dos Direitos dos Povos Indígenas, Joênia Wapichana, além da ativista Maial Paiakan, e os advogados Luiz Eloy Terena e Samara Pataxó.

Responsabilidade pelas mortes

Segundo Joênia Wapichana, a formação da CPI é importante para trazer à tona a responsabilidade pelos 400 mil mortos pelo coronavírus.

“A CPI instalada no Senado é essencial para que se deixe claro essa responsabilidade em relação ao que está avançando no Brasil. Hoje são cerca de 400 mil mortos pela covid e esse número inclui a vida dos povos indígenas, que totalizam, segundo o Comitê de Memória Indígena, mais de mil vidas de indígenas e mais de 50 mil infectados, dentro de 163 diferentes povos. É um número bastante significante porque a taxa de letalidade relacionada aos povos indígenas é sete vezes mais do que na sociedade em geral”, afirma.

Governo preconceituoso

O advogado e assessor jurídico do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Rafael Modesto, avalia que desde o começo do mandato de Bolsonaro as práticas de seu governo mostravam sua vontade em dizimar os povos indígenas.

“Desde o início, o Bolsonaro diz que não demarcaria um só centímetro de terra, e tem ministro dele dizendo que odeia o termo ‘povos indígenas’, então, a nosso ver é um governo preconceituoso com os povos indígenas e outras populações tradicionais. É um plano para dizimar os indígenas. Claro que estão morrendo muitos indígenas por inexistência de uma política eficaz. O impacto do vírus entre os indígenas é mais forte”, disse.

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Com a pandemia, as ações do governo federal ficaram ainda mais negligentes em relação as questões indígenas. A deputada Joênia Wapichana lembra que logo nos primeiros meses da pandemia, no ano passado, foi criada uma lei para assegurar proteção aos povos indígenas e o próprio presidente vetou mais de 20 itens do documento, inclusive o que dizia que o governo teria responsabilidade sobre o acesso à água potável nas comunidades.

Confira a reportagem da Rádio Brasil Atual