Repórter Brasil é alvo de ataques para censurar reportagens sobre trabalho escravo
Uma das principais fontes de informações e denúncias sobre trabalho escravo no país, sede do portal sofreu tentativa de invasão física. Site foi derrubado por hackers
Publicado 12/01/2021 - 14h39
São Paulo – O portal Repórter Brasil denunciou nesta terça-feira (12) que vem sendo alvo de uma série de ataques digitais, contra seu site, e físicos, contra a sua sede. De acordo com a organização, invasores estão usando de violência para censurar três anos de reportagens sobre trabalho escravo e as violações de direitos humanos. Fundada em 2001 pelo jornalista Leonardo Sakamoto, a Repórter Brasil é uma das principais fontes de jornalismo investigativo sobre o tema no país
Desde o dia 6 de janeiro, após uma série de ataques virtuais, o site do Repórter Brasil vem enfrentando dificuldades para se manter estável. Naquele dia chegou a ficar fora do ar durante algumas horas. Logo depois, a organização afirma ter recebido um e-mail anônimo, confirmando que os problemas técnicos eram em decorrência de ações criminosas. Na mensagem, o autor ainda escreveu “para que isso (ataque) não ocorra novamente removam as matérias nas pastas de 2003, 2004, 2005”.
Na manhã do dia seguinte, a sede do Repórter Brasil sofreu também uma tentativa de invasão física. Criminosos tentaram arrombar o portão, o que foi impedido, segundo a organização, pela chegada de vizinhos. A sede precisou, no entanto, ter a segurança reforçada e a entrada, de passar por reparos. Ainda segundo o Repórter Brasil, na sexta-feira (8) os invasores voltaram a entrar em contato, com um ultimato. “Vamos esperar até 11/01 para que atendam nossas solicitações”. Com a negativa de atender à intimidação, os ataques ao site voltaram com força e a página novamente ficou fora do ar ontem (11) por algumas horas. Da mesma forma, há problemas para acessar o conteúdo hoje.
Censura pela violência digital
Em comunicado em seu site, o Repórter Brasil declarou que já foram lavrados boletins de ocorrência e o Ministério Público Federal, e outras instituições competentes, vêm sendo comunicadas. O portal disse ainda que é “constantemente assediada por descontentes que exigem que reportagens sejam retiradas do ar”.
“A situação não é apenas um flagrante desrespeito à liberdade de expressão e à liberdade de imprensa, mas também possível crime de constrangimento ilegal, previsto no artigo 146 do Código Penal”, escreveu. O Repórter Brasil também aponta que esse é “um alerta a outros veículos de um novo tipo de assédio: a censura através de violência digital”.
Pelas redes sociais, jornalistas, entidades e outros meios de comunicação também se solidarizam e exprimem indignação pela violência.
O Instituto Igarapé se solidariza com a Repórter Brasil, importante fonte de informação sobre temas como o trabalho escravo no país. Reforçamos nosso compromisso com a defesa das liberdades de expressão e de imprensa. Saiba mais sobre os ataques aqui: https://t.co/RORZqfLvUX
— Instituto Igarapé (@igarape_org) January 12, 2021
Todo o meu apoio e solidariedade à Repórter Brasil @reporterb diante das ameaças que vem sofrendo.
— Deputado Alencar (@AlencarBraga13) January 12, 2021
O jornalismo independente incomoda os poderosos. E os poderosos estão sempre dispostos a usar violência contra aqueles que julgam seus inimigos.https://t.co/ha3ZO2gyZ9
Todo apoio e solidariedade a @reporterb ✊🏿
— Jurema Werneck (@juremawerneck) January 12, 2021
Repórter Brasil é alvo de ataques exigindo que reportagens sejam apagadas – https://t.co/S1J1U5Kq3a via @reporterb
Isso é extremamente sério. Todo apoio à Repórter Brasil!
— Natalia Viana 🇧🇷 (@VianaNatalia) January 12, 2021