Violência

Racismo estrutural no país impede que negros tenham acesso à justiça

Mulher mantida sob condições análogas à escravidão e com pensão fraudada por família tradicional em Minas Gerais pode ter dificuldades para ser indenizada, alerta presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública

Reprrodução/Alma Preta
Reprrodução/Alma Preta
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São Paulo – O racismo estrutural que impera no país pode impedir que seja feita justiça no caso de Madalena Gordiano, mantida em condição análoga à escravidão por 38 anos em Minas Gerais.  Notícias publicadas pelo portal UOL nos últimos dias dão conta de que a família que explorou Madalena fraudou uma pensão de R$ 8,4 mil oriunda de um casamento forjado com um ex-combatente da Segunda Guerra Mundial.

Madalena jamais “teve controle do dinheiro, que era administrado por Maria das Graças Milagres Rigueira e o filho, Dalton César Milagres Rigueira, segundo apontam as investigações”, informa o UOL neste domingo (3).

“Com a notícia de que a pensão de Madalena pode ter sido fraudada, quem será triplamente punida será ela mesma. Pois, se comprovada, a pensão pode ser cassada. A família se aproveitou e Madalena novamente sofrerá e não poderá contar com tais recursos para renascer desta violência”, afirma em sua conta no Twitter o professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Renato Sérgio de Lima, que é também presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

“A violência no Brasil mostra-se tão cruelmente arraigada que, em 3 dias, uma criança é baleada no colo da mãe no RJ e o UOL revela a exploração da mulher e negra Madalena Gordiano por uma família de ‘cidadãos de bem’. Porém, a sociedade e governantes continuam indiferentes”, disse ainda o professor.

Segundo a reportagem do UOL, assinada por Thiago Rabelo, de Patos de Minas (MG), o casamento foi forjado em 2001 com Marino Lopes da Costa, tio de Valdirene Lopes da Costa, esposa de Dalton. Madalena recebe duas pensões desde 2003, quando o marido morreu aos 80 anos de idade.

Fortes indícios

O matrimônio foi alvo de denúncia em 2008, porém o processo foi encerrado em 2015 por falta de provas, apesar de “fortes indícios de ocultação do fato”.

Já ciente da saúde debilitada do tio de Valdirene por conta da idade, Maria das Graças teria organizado o casamento de Madalena para que o dinheiro da pensão pudesse pagar a faculdade da filha Vanessa Maria Milagres Rigueira, formada em 2007 pela Faculdade de Medicina de Petrópolis, no Rio de Janeiro.

Quando Vanessa estava praticamente formada, Dalton passou a administrar o dinheiro de Madalena e se mudou ao receber uma proposta para dar aula em uma universidade de Patos de Minas (MG) em dezembro de 2006.

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