Luta

Desafio do Fórum Social Mundial é passar da análise à ação

Ações concretas, comunicação e articulação entre os diversos grupos afetados pela formas de opressão capitalista são as apostas dos facilitadores do FSM, que completa 20 anos

Bernardino Avila/Página 12
Bernardino Avila/Página 12
Vitória das mulheres pelo aborto na Argentina é modelo para as lutas socias

São Paulo – A partir deste sábado (23), organizações sociais e ativistas do mundo inteiro se reúnem para a edição 2021 do Fórum Social Mundial (FSM). Com o tema “Um Outro Mundo é Possível Pós-Covid-19″, os participantes vão debater virtualmente formas de organização alternativas ao atual sistema capitalista, que promove guerras, desigualdades e degradação ambiental. Esta edição marca também os 20 anos da primeira edição do FSM, realizado pela primeira vez, em 2001, em Porto Alegre.

Até 31 de janeiro, serão realizados painéis e atividades autogestionadas, para discutir a crise capitalista global, que foi agravada pela pandemia. Os custos desse modelo recaem, principalmente, sobre as mulheres, as comunidades tradicionais e imigrantes, que têm seus direitos cerceados e atacados.

De acordo com os integrantes do comitê facilitador do FSM, já são mais de 6 mil pessoas e organizações inscritas, com mais de 600 atividades sugeridas pelos participantes. Em entrevista coletiva nesta quinta-feira (21), eles afirmaram que, mais uma vez, o principal desafio do fórum é partir para a ação concreta, em nome da construção de “outros mundos possíveis”.

A aposta continua sendo na articulação entre os movimentos sociais em diversas partes do mundo. E na “interseccionalidade” das lutas dos trabalhadores, dos povos indígenas, dos jovens e movimentos feministas, por exemplo, que cada vez mais ganham as ruas em diversos países. A legalização do aborto na Argentina serve de modelo para essas ações.

Direito de protestar

“Um dos principais desafios é como conseguir que o FSM não seja apenas um evento. Como transcender à ação e articulação entre os diferentes movimentos globais, e que realmente tenham efeitos na nossa realidade. Vivemos uma situação terrível de desaparecimento de mulheres, de indígenas, da violação de crianças”, afirmou a mexicana Rosi Zuñiga, secretária-geral do Conselho de Educação Popular da América Latina e Caribe (CEAAL).

Segundo ela, as mortes e perseguições a defensores dos direitos humanos no México, Colômbia, Paraguai e Brasil demonstram que defender seus territórios “com seu corpo e sua palavra” se tornou muito perigoso. Da mesma forma, em diversas partes da América Latina, avança a “criminalização” do direito de protestar. “É preciso dar um basta”, afirmou.

Economia transformadora

Para a feminista peruana Gina Vargas, que participa do FSM desde a primeira edição, a “economia do cuidado” é uma das formas de mudar a realidade. Em vez da economia de mercado baseada na “ganância capitalista”, essa modalidade valoriza o trabalho não remunerado, realizado na maioria das vezes por mulheres, na atenção aos idosos e crianças.

Ela também destacou que são as mulheres, em especial as jovens e crianças, que tem sofrido com o aumento da violência doméstica durante a pandemia. “Então há lutas que temos que levantar com muitíssima força, como fizeram as argentinas recentemente, pelo direito de decidir sobre o próprio corpo. Há uma massificação das lutas dos jovens, das mulheres, dos indígenas. É fundamental que essas lutas sejam a base que vai nos permitir seguir avançando”, destacou.

Ação concreta e comunicação

Ao fim desta edição do FSM, o mexicano Felix Cadena Barquín, coordenador do Foro de La Paz (Fórum da Paz), espera que os movimentos definam datas específicas para desencadear lutas globais. Além disso, ele diz que já não basta denunciar as violações cometidas em nome do lucro. “É muito importante que expressemos solidariedade e façamos a denúncia. Mas os poderosos do mundo morrem de rir diante disso”, afirmou.

Por outro lado, o jornalista italiano Roberto Savio sugeriu que o FSM crie uma “comunidade virtual” para fortalecer o intercâmbio de informação entre suas organizações. Segundo ele, a imprensa tradicional informa de cima para baixo, numa única mão. E, ademais, atende aos interesses dos poderes político e econômico.

“Vamos trabalhar para criar uma comunidade de comunicação e informação entre todos nós, com uma lógica comum. Não vamos ter democracia sem ter cidadãos conscientes. Essa não é a função só dos jornalistas. Temos que criar consciência e participação”.


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