'Descaracterização'

Privatização do Ibirapuera é suspensa pela Justiça de São Paulo

Juíza diz que proposta de Doria esquece da ‘grandiosidade do Complexo’ e ‘destrói marco da cidade’

Reprodução/Governo de São Paulo
Reprodução/Governo de São Paulo
Area prevista para privatização é o Conjunto Esportivo Constâncio Vaz Guimarães, que tem 92 mil m² e inclui o Ginásio do Ibirapuera, o Estádio de Atletismo e o Parque Aquático

São Paulo – A privatização das aparelhos esportivos do Ibirapuera foi suspensa pela Justiça de São Paulo. Em caráter de urgência, a juíza Liliane Keyko Hioki, da 2ª Vara de Fazenda Pública de São Paulo, concedeu uma liminar que paralisa a publicação do edital, após uma ação popular assinada protocolada por especialistas e atletas.

A proposta de concessão do espaço, apresentada pelo governador João Doria (PSDB), prevê a demolição do Conjunto Esportivo Constâncio Vaz Guimarães, o Complexo do Ibirapuera, que seria substituído por estabelecimentos comerciais, de gastronomia e hotelaria, bem como uma arena multiuso.

Em sua decisão, a magistrada disse que o projeto de Doria “promoverá a descaracterização do Complexo Esportivo enquanto centro de lazer e treino de atletas”. Ainda no despacho, Liliane reforça que o espaço é referência de esportistas. “O Complexo Vaz Guimarães é marco de uma época, de um estilo arquitetônico, que uma vez demolido para sempre estará perdido, guardado em simples fotos e memórias de quem por lá teve o prazer de passar”, diz o trecho da decisão.

A área prevista para privatização é o Conjunto Esportivo Constâncio Vaz Guimarães, que tem 92 mil m² e inclui o Ginásio do Ibirapuera, o Estádio de Atletismo e o Parque Aquático. A juíza afirma ainda que o Complexo foi “esquecido pelo Poder Público e não se mostra tão grandioso como outrora, porém, isso não pode ser motivo para se destruir um marco da cidade”.

Especulação imobiliária

Em 2010, o ginásio passou por um processo de reforma e reorganização. O governo do estado de São Paulo gastou, à época, mais de R$ 30 milhões com as obras e o complexo foi reaberto em maio de 2011. Sete anos depois, o então governador Geraldo Alckmin (PSDB) lançou o edital de concessão que avança agora sob o governo de João Doria.

A arquiteta e urbanista Nilce Aravecchia afirma que o edital é parte da mentalidade privatista que transforma o serviço público, o direito público em negócio. “Sobretudo (interesse de) setores do capital imobiliário. Uma mentalidade muito característica do PSDB e de sua condução do estado e da prefeitura de São Paulo. Que transforma todo e qualquer serviço público em mercadoria, em negócio, retirando esses serviços do campo dos direitos cívicos, de construção de justiça social, no sentido de ampliar o direto ao esporte, ao lazer e à cultura para as pessoa mais pobres”, disse à RBA.