Compromissos de campanha

Tema da ‘segurança alimentar’ expõe diferenças entre os programas dos candidatos

Em São Paulo, enquanto os candidatos de esquerda a prefeito discutem a questão da segurança alimentar em suas propostas, candidatos de linha conservadora sequer mencionam o tema

São Paulo – O apoio a agroecologia e agricultura familiar entre os candidatos nas eleições deste ano é um recorte que revela as diferenças dos programas de governo de cada um. Em São Paulo, por exemplo, enquanto os candidatos de esquerda a prefeito discutem a questão da segurança alimentar em suas propostas, candidatos de linha conservadora sequer mencionam o tema.

“Fortalecer e proteger os movimentos sociais que produzem alimentos sem agrotóxicos” está entre os objetivos listados pelo candidato do Psol, Guilherme Boulos. Em seu programa, ele dedica todo um capítulo ao tema da segurança alimentar e produção de alimentos, preocupado em estar alinhado com as demandas dos movimentos que defendem a agricultura familiar.

Com a mesma postura, o candidato do PT, Jilmar Tatto, considera a segurança alimentar um item importante para ser debatido entre os candidatos. Entre as propostas para a área, defende “apoiar a comercialização de alimentos produzidos pela agricultura familiar e projetos da Reforma Agrária no município para o abastecimento da população, das compras institucionais e pela ampliação dos pontos de vendas de produtos em mercados municipais e em bairros da periferia (feiras, sacolões, varejões e outros)”.

No programa de governo do candidato tucano Bruno Covas, o tema segurança alimentar não aparece. O mesmo se repete no programa de governo de Celso Russomanno, que tem suas propostas organizadas em 11 pontos, da assistência social ao meio ambiente e sustentabilidade, sem passar por um tema sensível ao combate à fome, que é a segurança alimentar.

A palavra “fome” não aparece nenhuma vez no programa de Russomanno. Aparece uma vez no programa de Bruno Covas. “Foi assim com o auxílio emergencial, quando abrimos os postos dos Centros de Apoio ao Trabalhador para ajudar aqueles que não conseguiam se cadastrar. Foi assim quando colocamos nossos profissionais para facilitar a vida dos que estavam atrás do benefício nas filas da Caixa Econômica Federal. Foi esse mesmo espírito solidário que fez com que atingíssemos a marca de 1,8 milhão de cestas básicas distribuídas para evitar que muitas famílias passassem fome”, diz o programa tucano ao defender seu atual governo.

A mesma palavra aparece duas vezes no programa de Guilherme Boulos. Em uma delas, o candidato afirma: “As pessoas morrem mais na periferia por várias razões. Uma delas é porque não têm outra escolha além de se expor em ônibus e metrôs lotados para ir trabalhar. Na prática, a periferia vive o dilema entre o vírus ou a fome.”

“O governo do PSDB deixa um legado de descaso e atraso no combate à fome e à miséria na cidade de São Paulo. Os equipamentos públicos de abastecimento passaram orientar-se para o interesse de comerciantes e não mais da população consumidora”, afirma o candidato Jilmar Tatto em seu plano de governo, com texto que cita o problema da fome quatro vezes.

Carta-compromisso para candidatos

Nesta terça-feira (6), a Articulação Nacional de Agroecologia (ANA)  lançou uma campanha em defesa de políticas públicas para a agroecologia e agricultura familiar. Candidatos a prefeitos e vereadores inclinados a defender e fomentar essas atividades terão oportunidade de tornar público esse compromisso por meio da iniciativa da ANA. 

A campanha oferece uma carta-compromisso aos candidatos que desejam manifestar apoio ao setor. A base desse apoio é dada por um documento com 36 propostas, organizadas em 13 campos temáticos, para a criação de políticas públicas de apoio à agricultura familiar e à agroecologia. O documento será entregue a candidaturas de cidades pelo Brasil. 

A articulação coordena uma rede de entidades que atuam na produção de alimentos. A campanha, chamada de ‘Agroecologia nas Eleições’, mapeou políticas e programas municipais em todo o país que apoiam a agroecologia e a agricultura familiar, promovem a segurança alimentar e nutricional e criam renda nos territórios.

Confira aqui o documento da ANA