comida e renda

Jornada Nacional Contra a Fome alerta para urgência de da segurança alimentar

Em mobilização virtual, movimentos do campo e da cidade denunciam o desmonte de políticas de alimentação e de combate à fome pelos governos neoliberais

Leonardo Henrique
Leonardo Henrique
"Esse ato faz parte da jornada de luta em defesa da alimentação, contra a fome, em defesa do direito dos povos", disse Michela Calaça, do Movimento de Mulheres Camponesas, da Via Campesina

São Paulo – Transmitido on-line por diferentes organizações da sociedade civil, o “Ato Nacional Contra a Fome: Por mais comida saudável e renda para o povo se alimentar” marcou o Dia Nacional da Alimentação, nesta sexta-feira (16). Durante a mobilização foi lançado o “Manifesto Popular Contra a Fome e Pelo Direito de se Alimentar Bem“, assinado por 159 entidades. Participaram representantes da FAO, Campanha Periferia Viva, CONSEA, Frente Brasil Popular, Frente Povo Sem Medo, La Via Campesina (Cloc), Plataforma Operária e Camponesa, Campanha Renda Básica Emergencial, Via Campesina, CNBB, Campanha Vamos Precisar de Todo Mundo (CMP), Campo Unitário (Contag). Além disso, artistas realizaram performances engajadas com a questão da alimentação e do direito à terra.

O ato foi marcado também pelo pronunciamento realizado nesta manhã pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ainda na manhã de hoje.

“Esse ato faz parte da jornada de luta em defesa da alimentação, contra a fome, em defesa do direito dos povos. Este ato junta diversas organizações, construído pela Frente Brasil Popular, Frente Povo sem Medo, Via Campesina, Fórum das Centrais Sindicais. Não é uma jornada só virtual. Conta com atos de denúncias e de solidariedade. Nós distribuímos alimentos para quem mais precisa. O alimento saudável é a ferramenta de unidade entre a classe trabalhadora do campo e da cidade”, disse Michela Calaça, do Movimento de Mulheres Camponesas, da Via Campesina.

A diretora do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST) Kelli Mafort reforçou a urgência de o país sanar rapidamente a questão da fome, que volta a ameaçar a população. “Nossa soberania alimentar está ameaçada. Temos brasileiros enfrentando a fome. Para acabar com a fome é preciso se comprometer com um projeto político que possa garantir alimento e vida digna”.

Soberania

O ex-diretor da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) José Graziano participou do ato e chamou a atenção para a importância de ações políticas contra a fome. “A fome é uma preocupação constante de todas as sociedades. Os produtores de alimentos saudáveis sabem bem. Mais de 500 milhões de pequenos agricultores no mundo se dedicam à garantia de saúde, alimentação e vida.”

Para o especialista, o atual governo do presidente Jair Bolsonaro desdenha da segurança alimentar dos brasileiros. “Infelizmente, no Brasil, a preocupação (com a fome) desapareceu nos últimos governos. Ninguém acha importante a segurança alimentar do nosso povo neste governo. Estão desmontando o que construímos a muito custo desde o primeiro governo Lula. Nem se fala mais em Fome Zero, que criou o Bolsa Família, que criou a compra da agricultura familiar para a merenda escolar, com produtos frescos e saudáveis”, disse.

Crise e fome

Graziano saudou os que lutam para proporcionar alimentação digna e saudável à população e chamou atenção para que não se esqueçam dos cidadãos mais fragilizados. “Como sabemos, só perde quem não luta. Os agricultores lutam, estão nas ruas, chamam a atenção do povo para uma vigília permanente contra a fome. Se há uma lição a aprender é que não podemos nos descuidar da fome. A fome volta sorrateiramente se nos descuidarmos. Qualquer crise provoca a chamada inflação dos pobres, do arroz e do feijão.”

Em sua participação no Ato Nacional Contra a Fome , a secretária-geral da CUT, Carmem Foro, alertou para o cenário de dificuldades que espera o país, se não houver firme enfrentamento das políticas neoliberais que orientam o governo Bolsonaro. “O Brasil voltou para o mapa da fome. Temos que denunciar as políticas desastrosas deste governo. Um governo que não investe na agricultura familiar. Que apenas satisfaz suas ganâncias e veta políticas de garantia de alimentos. Nosso dever é pressionar o Congresso, apresentar propostas e denunciar o terrível retorno da fome no nosso país. Sigamos firmes, denunciando as atrocidades do capitalismo e deste desgoverno.”

Solidariedade

Desde o início da pandemia de covid-19, movimentos sociais do campo e da cidade estão nas ruas para ajudar no combate a fome, distribuindo alimentos aos estratos sociais mais vulneráveis. “Hoje é um dia de luta, de reivindicar nosso direito humano a uma alimentação adequada. Denunciamos esse governo e anunciamos a aliança dos movimentos do campo e da cidade. Estamos na rua para ajudar as pessoas, para prestar solidariedade. Estamos nas ruas para levar solidariedade e lutar pelo direito da alimentação adequada”, disse Adília Nugueira, da Periferia Viva.

Para o coordenador nacional da Central de Movimentos Populares (CMP), Raimundo Bomfim, “em um momento de crise sanitária, milhões de pessoas passam fome, apesar de termos um país com vastos recursos naturais e pujante produção de alimentos, sobretudo pela agricultura familiar. Mesmo assim, infelizmente, nosso povo passa fome. A CMP tem forte atuação na periferia realizando ações de solidariedade para mitigar os piores efeitos. É urgente uma Renda Básica Cidadã para que o povo possa se alimentar”.

O teólogo Leonardo Boff lembrou a perversidade do sistema econômico, que em nome do interesse de alguns, se sobrepõe à vida de forma geral. “O Brasil voltou para o mapa da fome em decorrência de gestões que privilegiam os lucros exorbitantes do capital, que não tem pátria nem senso humanitário”, disse.

Por sua vez, a Atriz Letícia Sabatella afirmou: “A juventude, em especial a juventude negra, segue morrendo nas periferias, sem condições de emancipar-se e produzir. Os povos e comunidades tradicionais estão cada vez mais atacados como forma do capital conseguir mais lucro”.