Ameaça

‘Queremos paz para produzir’, diz coordenadora do MST no Sul da Bahia

Lucineia do Rosário relata “tensão” com a presença da Força Nacional em assentamentos nos municípios de Prado e Mucuri, no Sul da Bahia, há duas semanas

Lia Bianchini/Fotos Públicas
Lia Bianchini/Fotos Públicas
Durante a pandemia, MST já doou mais de 3.300 toneladas de alimentos produzidos nos assentamentos

São Paulo – Desde o dia 3 de setembro o clima é de tensão nos assentamentos do MST que ficam nos municípios de Prado e Mucuri, no Sul da Bahia. A região recebeu mais de uma centena de policiais da Força Nacional, a mando do ministério da Justiça. Uma portaria autoriza a presença dos militares por até 30 dias, sob justificativa de manutenção da ordem pública e preservação do patrimônio.

Um dos motivos foi a expulsão de um casal de assentados do assentamento Jaci Rocha, em Prado. Após assembleia, eles foram excluídos por não habitarem e estarem ausentes do assentamento por mais de 30 dias. Além disso, há suspeita do envolvimento do casal com tráfico de drogas e gado, além da posse de armas quando estiveram no local.

O casal entrou na Justiça, que determinou a reintegração de posse. Outro pedido de integração tem como objeto uma escola que já foi desocupada pelo MST em fevereiro.

Outra justificativa é que os policiais fariam escolta para os fiscais do Instituto Nacional da Reforma Agrária (Incra). Mas, segundo Lucineia Durães do Rosário, da coordenação nacional do MST, os agentes do Incra nunca foram ameaçados ou impedidos de entrar nos assentamentos.

Anormal

Lucineia classificou a presença dos policiais como “surpreendente”, já que não houve solicitação por parte do governo baiano. “Não existe um conflito real nesta região. É um ato do que fere o pacto federativo. Portanto, é um processo completamente estranho”, afirmou. Ao programa Brasil TVT, neste domingo (13), ela contou que os trabalhadores tentam seguir uma rotina de “normalidade”, apesar da presença dos militares.

Para a coordenadora do MST, em vez da utilização da Força Nacional, o governo deveria incrementar o orçamento para a reforma agrária. Além disso, ela cobrou celeridade nos processos de titulação dessas terras, para que os trabalhadores possam ter acesso a políticas de crédito agrícola e moradia.

Durante a pandemia, a campanha nacional de partilha de alimentos do MST já doou mais de 3.300 toneladas, que foram produzidas nos assentamentos para populações em situação de vulnerabilidade social.

“Da nossa parte, queremos paz para continuar produzindo. Nessa pandemia, de maneira especial, tomamos a decisão de que todo sem-terra iria fazer quarentena produtiva. Estamos produzindo para o conjunto da sociedade. E buscando o máximo possível manter um clima de normalidade e tranquilidade, para continuar, inclusive, fazendo o isolamento social”, afirmou.

Assista à entrevista:

Redação: Tiago Pereira. Edição: Glauco Faria


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