Memória e verdade

Projeto conta história da vala de Perus em capítulos semanais

‘Perus, uma Biografia’ será lançada nesta terça-feira para registrar os 30 anos de história da vala clandestina do cemitério de Perus, em São Paulo, descoberta em 1990 com 1.049 ossadas

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Vala clandestina foi encontrada há 30 anos: legado da ditadura civil-militar no Brasil

São Paulo – O Instituto Vladimir Herzog (IVH) lança nesta terça-feira (1°) o projeto Vala de Perus, uma Biografia. Esse trabalho vai contar em oito capítulos semanais, publicados no site do instituto e em suas redes sociais a partir desta semana, a história da vala clandestina do cemitério de Perus, em São Paulo, descoberta em 1990 com mil ossadas.

O cemitério clandestino foi formado durante a ditadura civil-militar no país. O jornalista Camilo Vannuchi, autor dos textos, lembra que entre as mil ossadas pelo menos 40 são de desaparecidos políticos, que foram torturados nos porões do regime de exceção no país, que perdurou de 1965 a 1985.

O evento de lançamento on-line contará com a participação de protagonistas da luta por memória, verdade e justiça. E pode ser acompanhado nas redes sociais do Instituto.

Em entrevista ao Seu Jornal, na TVT, nesta segunda-feira (31), Vannuchi afirma que há muitos desaparecidos políticos que foram registrados no livro do cemitério com nome falso. “Esses nomes eram usados na clandestinidade, na militância política. A autoridade pública sabia o nome verdadeiro e deliberadamente escolhe colocar no livro de registro o nome falso”, diz.

Com o nome falso da clandestinidade, “o pai não sabe, a mãe não sabe, o irmão não sabe e aí é toda uma estratégia para ocultar cadáveres. Fazer com que jamais possam descobrir a sua localização”.

Vítimas do autoritarismo

O crime de desaparecimento e o crime de ocultação de cadáver não prescrevem, eles são de natureza permanente, segundo o entendimento da Justiça no país. “Então, acho que essa é a grande importância de um trabalho como esse, que o Instituto Vladimir Herzog está fazendo. Eu sou autor desses textos e a gente vai publicar em capítulos semanais. A partir dessa semana serão oito capítulos ao todo. Com essa ideia de poder contar num produto só a história inteira a gente está chamando o livro de Vala de Perus, uma biografia.”

Segundo Camilo, a história de vida dessa vala ainda pulsa. “E na vala, das 1.049 ossadas que foram retiradas de lá em 1990, a gente costuma falar muitos dos desaparecidos políticos. Eram aqueles militantes das guerrilhas. Eles foram presos, torturados e executados sob tortura. Estão naquela vala, na melhor das hipóteses, 40 desaparecidos.”

As mil ossadas que estão ali são vítimas da polícia que mata, dos esquadrões da morte. “São pretos, pobres, periféricos que foram executados naquele momento, como continuam sendo executados ainda hoje. E em número ainda maior. Quando a gente milita, investiga e quer saber quem matou Marielle, onde está o Amarildo. A história da vala de perus ela continua ressoando e ela ecoa em 2020 de uma maneira muito forte. Acho que também por isso é importante recontar essa história e lembrar esses testemunhos essas pessoas que trabalharam para que essa história não fosse ocultada”.

Serviço – Lançamento de Vala de Perus, uma Biografia, nesta terça-feira (1°), às 18h.