Virada Sustentável

Inumeráveis ocupa Paulista para contar histórias de indígenas mortos pela covid-19

Memorial que guarda relatos sobre mortos pela pandemia do novo coronavírus fará projeções na Avenida Paulista, no dia 2, em parceria com duo de artistas VJ Suave na Virada Sustentável

Reprodução
Reprodução
As histórias serão projetadas na língua original dos povos indígenas. “A gente acredita que essa ferramenta, que é a língua, diminui esse abismo cultural, emocional, intelectual que existe", diz Gabriela Veiga

São Paulo – O Memorial Inumeráveis foi convidado pela Virada Sustentável para fazer uma obra na cidade de São Paulo. Criado para não permitir que as histórias sobre os mortos pela covid-19 se transformem somente em números, o Inumeráveis aceitou a proposta e foi além. Vai dar vida aos relatos sobre indígenas vitimados pela pandemia, tirando-os da invisibilidade a que estão sendo relegados.

“Criamos uma obra com o intuito de diminuir esse abismo entre indígenas e não indígenas”, relata Gabriela Veiga, umas das responsáveis pelo projeto do Inumeráveis. Ao lado de Edson Pavoni, criador do Inumeráveis, e do duo de artistas audiovisuais VJ Suave, foi criada uma curadoria especial para essa obra. As projeções serão feitas nesta sexta-feira (2), na Avenida Paulista (do Japan House, no número 52, ao prédio da Gazeta, no 900), entre 18h e 18h50.

A obra, explicam os artistas, contempla a identidade de alguns povos indígenas por intermédio de suas línguas originárias. A dupla Ceci Soloaga e Ygor Marotta projetará a obra em movimento. Assim, a narrativa ganhará vida na arquitetura dos prédios, casas, árvores e superfícies da avenida mais emblemática da cidade.

Relacionamento especial

A relação do Memorial Inumeráveis com lideranças indígenas que perderam seus parentes para a covid-19 foi construída pela artista Gabriela Veiga e pela escritora Giovana Madalosso. São histórias íntimas e de lutas dos povos Kokama, Macuxis, Guajajara, Fulni-ô e Baniwa, que ganharão luz na Paulista no dia 2.

“Vamos projetar as histórias na língua original desses povos indígenas”, relata Gabriela Veiga. “A gente acredita que essa ferramenta, que é a língua, diminui esse abismo cultural, emocional, intelectual que existe.”

A obra, afirma a artista será documentada e transformada em vídeo, para posterior exibição. E contará com a participação dos indígenas lendo as histórias, já que na projeção não há som. “A língua é uma ferramenta forte da identidade deles. Por mais que nós não indígenas não entendamos o que significa aquela história na língua deles, pelo menos esse abismo diminui. A gente entende que tem outras línguas originárias”, acredita.

Respeito à identidade

“Decidimos falar, nos relacionar com os povos indígenas, com um objetivo muito claro: tirá-los da invisibilidade”, explica Gabriela, lembrando que são 305 os povos originários no Brasil. Sonia Guajajara é conselheira do Inumeráveis e faz as pontes com as lideranças indígenas. “Desde que estamos nesse relacionamento, há cerca de cinco meses, a gente entendeu duas coisas importantes. Não existe protagonismo nosso, somos interlocutores. Eles falam e a gente escreve, sem romantizar a visão que temos dos indígenas.”

A outra refere-se ao sofrimento durante a pandemia, alvos do desmonte ambiental. “Além desses ataques, sofrem por terem mexido na identidade deles”, afirma Gabriela. “Estava sendo colocado nos atestados de óbito que são pardos. E eles são indígenas. Isso mexeu muito com eles, ficaram muito abalados. A identidade é algo profundamente importante para eles. Para cada povo de um jeito diferente, mas muito importante.”

10 anos de Virada

A 10ª edição da Virada Sustentável teve início em 16 de setembro e vai durar um mês. “A comemoração dos 10 anos da Virada Sustentável SP acontece neste momento histórico da Humanidade, em que se fazem ainda mais necessários o pensar sobre o coletivo, os limites do nosso planeta e para onde estamos caminhando”, afirmam os organizadores. “Acredito que o respeito ao meio ambiente, o consumo consciente, a diversidade irrestrita, a luta contra a desigualdade social e o cuidado com a saúde são as frentes que constroem um futuro mais sustentável a partir do indivíduo, e por isso, adotamos estes temas como pilares desta edição”, explica André Palhano, idealizador do evento ao lado da publicitária Mariana Amaral.

O evento ocorre, pela primeira vez, em modelo híbrido: físico e virtual. A intensa programação gratuita traz ocupações artísticas que objetivam levar a uma reflexão sobre a sustentabilidade nos dias de hoje, na amplitude de seu significado. Ate 18 de outubro, a Virada conta com intervenções em diversos locais nas cinco regiões da cidade, como Largo da Batata, Avenida Paulista, Minhocão, Grajaú, Brasilândia, Jardim Helena, ‘Rua das 100 Minas’ na Lapa, e também no Instagram, Facebook e Youtube.


Leia também


Últimas notícias