#FicaQuilombaque

Comunidade Quilombaque faz campanha de arrecadação para evitar despejo

Espaço é responsável por disseminar e valorizar expressões culturais negras, na região do Perus, em São Paulo

REPRODUÇÃO/FACEBOOK
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Comunidade Quilombaque mapeou os patrimônios de memória de luta do bairro e criaram um museu territorial

São Paulo – A Comunidade Quilombaque, uma das organizações culturais mais importantes da cidade de São Paulo, pode perder sua sede, localizada em Perus, na região noroeste da capital. Há 15 anos no local, o grupo é responsável pela disseminação e valorização das expressões culturais de matriz africana.

A programação da comunidade sempre foi extensa e, até antes da pandemia de covid-19, incluía teatro, saraus, música, capoeira, cortejos e dança. Após o coronavírus, o espaço tornou-se responsável por receber cestas básicas e kits de higiene para distribuir pelas diversas regiões da capital.

Entretanto, no mês de julho, a Comunidade Quilombaque foi intimada a comprar o terreno do seu espaço físico ou sofrer um despejo. Desde então, eles lançaram a campanha na internet #FicaQuilombaque para arrecadar o valor de R$ 300 mil e não perder o chão cultivado por 15 anos.

“Nós fomos surpreendidos, porque a única alternativa é comprar. Como somos um movimento de resistência, queremos comprar o local para continuar fortalecendo a comunidade local. Nós criamos uma vaquinha virtual para ajudar na arrecadação. E, no final do mês, vamos fazer um show de diversos artistas para divulgar nossa luta”, afirma Cleiton Ferreira, articulador do projeto Usina de Valores do Instituto Vladimir Herzog, em entrevista a Glauco Faria, no Jornal Brasil Atual.

Comunidade Quilombaque

A Comunidade Cultural Quilombaque surgiu em 2005, diante das violações de direitos da juventude negra de Perus, em paralelo com as violações dos direitos trabalhistas, dos chamados Queixadas, na década de 1960. Ao longo dos quinze anos, o terreno antes abandonado, foi ocupado e transformado em um importante espaço cultural.

De acordo com Cleiton, há um plano sustentável local para criar uma economia menos degradante. Além disso, eles mapearam os patrimônios de memória de luta do bairro e criaram um museu territorial, aprovado no Plano Diretor.

“Com os elementos da região, usando o eixo ambiental formado pelo Parque Anhanguera, Serra da Cantareira e o Parque Estadual do Jaraguá, nós criamos trilhas educativas dentro do cinturão verde, com pontos históricos do desenvolvimento do Brasil. Estamos desenvolvendo cultura onde não tem, é uma ferramenta de garantia de direito para a comunidade”, afirma Ferreira.

Segundo ele, há um trabalho forte sobre a questão da ancestralidade. Além da proposta de museologia e turismo, que passa pelas terras dos guaranis-kaiowas e a ocupação do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), a Comuna da Terra Irmã Alberta.

“A gente rompe com a sala de aula para mostrar que o território também um lugar de aprendizado. Nós fazemos essas trilhas para mostrar o contexto histórico. Levar uma escola à aldeia para mostra a cultura indígena não está no livro didático. Nós ensinamos a relação com a terra, ajudando no desenvolvimento sustentável local”, finaliza Cleiton.

Confira a entrevista