Brasil-Bolívia

Cimi vai denunciar chacina dos chiquitanos à ONU e pedir federalização do caso

Entidades de proteção aos povos indígenas não tiveram acesso ao andamento do inquérito que investiga a participação de agentes policiais

CEDPH-M/ FDHT-MT
CEDPH-M/ FDHT-MT
Indígenas de nacionalidade boliviana foram mortos enquanto caçavam na fronteira

São Paulo – O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) está elaborando denúncia que será entregue à relatoria de povos indígenas da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre a chacina de indígenas chiquitanos ocorrida no mês passado no Mato Grosso, próximo à fronteira com a Bolívia. Além disso, o órgão também vai pedir a federalização das investigações.

Integrantes do Grupo Especial de Fronteira (Gefron), da polícia do Mato Grosso, são suspeitos do assassinato dos quatro indígenas de nacionalidade boliviana. O Conselho Nacional de Direitos Humanos e as comissões de direitos humanos da Câmara e do Senado já foram notificadas sobre o ocorrido.

O caso

Em 11 de agosto, quatro indígenas chiquitanos foram mortos em local próximo à comunidade de San José de la Frontera, na Bolívia. Paulo Pedraza Chore, Ezequiel Pedraza Tosube, Yonas Pedraza Tosube e Arcindo Sumbre García estavam caçando na região quando foram surpreendidos pelo Gefron.

De acordo com a polícia, os quatro seriam suspeitos de tráfico de drogas, mas carregavam apenas carnes de animais silvestres. A análise dos corpos das vítimas mostrou sinais de tortura, e os familiares denunciaram ação criminosa dos policiais envolvidos na ação.

Na semana passada, um grupo de trabalho formado por integrantes do Cimi e de outras organizações de defesa dos direitos humanos, foi enviado ao local para investigar a situação. Mas, segundo coordenador do Cimi Regional Mato Grosso, Gilberto Vieira dos Santos, entidades de proteção aos povos indígenas não tiveram acesso ao andamento do inquérito.

Em um ofício, o grupo afirma que os chiquitanos são um povo simples e que os quatro indígenas foram mortos com uso desproporcional da força.

“É extremamente perigoso imaginar que as pessoas que cometeram esse ato estejam circulando normalmente. Esperamos que elas possam ser afastadas, para que não haja qualquer pressão sobre a comunidade, que já se sente extremamente violada e com medo”, afirmou Santos ao repórter Danilo Reenlsober, para o Jornal Brasil Atual, nesta terça-feira (15).

Fronteiras invisíveis

Segundo ele, a fronteira seca entre o Brasil e a Bolívia não é marcada por nenhuma delimitação na região, o que dificulta a vida no local e separa muitas famílias.

“Tem familiares das vítimas que moram do lado brasileiro, justamente porque a fronteira foi algo imposto ao longo da história, cortando e dividindo, em dois países, um único povo”, disse o coordenador do Cimi.

Para o líder indígena Soilo Urupe Chue, os chiquitanos devem ter seus direitos garantidos no Brasil e na Bolívia. Segundo ele, não existem fronteiras, apenas o território onde os chiquitanos vivem, com suas crenças e línguas. “Nós somos um povo só e não criamos as fronteiras. Isso, para nós não existe”, afirmou.

Redação: Tiago Pereira. Edição: Glauco Faria


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