Ataque e resistência

Quilombo Campo Grande amanhece com nova ameaça de despejo

Após ação ter sido paralisada nesta quarta-feira (12), acampados seguem sob risco de ter que sair de suas casas em plena pandemia

Resistência Quilombo Campo Grande
Resistência Quilombo Campo Grande
Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) critica o despejo em meio a pandemia, onde as 450 famílias não terão onde se abrigar

São Paulo – O Quilombo Campo Grande, em Campo do Meio, sul de Minas Gerais, amanheceu nesta quinta-feira (13) ainda sob ameaça de despejo. Policiais chegaram ao acampamento e montaram cerco às famílias, que resistem para proteger suas casas. A ação foi iniciada na manhã de ontem, com base em determinação judicial de 2019 da Comarca de Campos Gerais.

O governo do estado disse ter feito uma solicitação para a suspensão do cumprimento da reintegração de posse na terça-feira (11), com entidades como a Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e o Conselho Estadual de Direitos Humanos. O pedido teria sido negado.

Mais tarde, após pressão da sociedade civil, mobilizações na redes sociais e manifestações de parlamentares, o governador Romeu Zema (Novo) se posicionou de forma contrária à ação, que foi paralisada.

O Quilombo Campo Grande é local de trabalho e moradia para 450 famílias há mais de 23 anos. “Seguimos em vigília. Ontem, havia mais de 150 policiais aqui e chegaram, hoje, mais 20 viaturas. Estamos resistindo e vamos denunciar a covardia do governador Zema”, alertou uma moradora do quilombo, em vídeo publicado nas redes sociais.

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) critica o despejo em meio à pandemia, lembrando que as famílias não terão onde se abrigar. “O imbróglio jurídico envolvendo a falida Usina Ariadnópolis, em Campo do Meio, já dura 20 anos. Por que despejar as famílias justo na pandemia? Em poucos dias veremos os danos e a contaminação que essa operação criminosa está causando”, disse Kelli Mafort, da coordenação nacional do MST.

Pressão

Além da Escola Eduardo Galeano, um barracão coletivo onde moravam três famílias foi despejado. O MST denuncia, ainda, que o endereço do local para onde as famílias deveriam ser encaminhadas não existe. Os sem-terra avaliam que a ação é porta de entrada para o desmonte do acampamento.

O despejo de 450 famílias do quilombo interessa diretamente à empresa Jodil Agropecuária, pertencente ao empresário João Faria, maior produtor individual de café do mundo. Ele vende para, entre outras, a suíça Nestlé.


Leia também


Últimas notícias