Entrevista inédita

Casaldáliga: índios, Alca e a ‘tradição de oligarquias vendidas’ na América Latina

Confira depoimento inédito (à Revista do Brasil e à TVT) do bispo, que morreu no último sábado

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Seminaristas carregam o caixão com o corpo de Dom Pedro Casaldáliga, que será enterrado em São Felix do Araguaia (MT). O religioso chegou àquele local em 1968

São Paulo – Em maio de 2014, a Revista do Brasil e a TVT foram a São Félix do Araguaia (MT) para uma matéria sobre dom Pedro Casaldáliga e seu trabalho à frente da Prelazia naquela comunidade. A reportagem saiu na edição de junho daquele ano. O bispo emérito conversou, mas não queria gravar entrevista, que já não concedia há tempos. Com saúde frágil, alegou também dificuldade para falar. Depois autorizou a gravação de uma conversa, até agora inédita.

Durante 11 minutos e meio, em sua casa simples, Casaldáliga falou com a editora e pesquisadora iconográfica Sônia Oddi e com o cineasta Celso Maldos. Sobre o papa, índios, globalização, sindicatos, capitalismo, política. Quase no final, lembrou de encontro com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em assembleia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). “Eu falei: vou te pedir três coisas. Que não nos deixes cair na Alca. Segunda, que não nos deixe cair na Alca. Terceira, que não nos deixe cair na Alca. Só te peço isso”, recordou o religioso.

A questão da soberania sempre foi cara ao bispo, que partiu no último sábado (8), aos 92 anos. Ele falou sobre as histórias comuns dos povos latino-americanos. “As mesmas lutas, os mesmos carrascos, os mesmos impérios sujeitando-nos, uma tradição de oligarquias vendidas. Tem sido sempre assim.”

Salvar a esperança

Naquele momento a situação era um pouco melhor, segundo ele. “E inclusive os Estados Unidos não têm hoje o estrito controle da América Latina. Somos menos americanos, para ser mais americanos. É preciso, de todo jeito, salvar a esperança. Insistir nas lutas locais, frente à globalização.”

A maior parte da conversa é dedicada aos índios. “O direito dos povos indígenas são interesses que contestam a política oficial. São culturas contrárias ao capitalismo neoliberal, e às exigências das empresas da mineração, das madeireiras. E os povos indígenas reivindicam uma presença que seja respeitosa ecologicamente. (…) Quando se diz que não há vontade política pelas causas indígenas, eu digo que há vontade política, mas contrária. Isso é sistemático.”

De Batatais (SP), o corpo de dom Pedro Casaldáliga foi transladado para Ribeirão Cascalheira (MT), onde foi enterrado o padre João Bosco Burnier, assassinado durante a ditadura, em 1976 – ele e Casaldáliga tinham ido a uma delegacia para tentar libertar duas mulheres que eram torturadas. De lá, o corpo do bispo seguiria para São Felix.

Confira depoimento inédito de Casaldáliga concedido à Revista do Brasil e TVT em 2014


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