'NÃO É PRODUTO'

Ladislau Dowbor: privatização da água levará a monopólios nocivos

Senado aprovou projeto que possibilita a privatização por meio da concessão de serviços de estatais do setor

EBC
EBC
'Você não pode tratar a água como se fosse tomate ou batata. A água é diferente, não é que nem outro produto que tem uma concorrência e equilíbrio de mercado', afirma economista

São Paulo – O professor e economista Ladislau Dowbor aponta problemas na privatização da água. Para ele, o bem essencial para a humanidade não pode ser tratado como produto e privatizá-lo irá formar monopólios prejudiciais para a economia brasileira.

No último dia 24, o Senado aprovou o novo marco legal do saneamento básico, com um placar de 65 votos favoráveis e 13 contrários. O Projeto de Lei (PL) 4.162/2019 facilita a privatização da água por meio da concessão de serviços de estatais do setor para empresas que visam ao lucro. O texto segue agora para sanção do presidente Jair Bolsonaro para entrar em vigor.

O economista afirma que o Brasil está na contramão do mundo ao tomar esse rumo. “Estão retrocedendo décadas, enquanto o mundo inteiro está saindo da privatização. Você não pode tratar a água como se fosse tomate ou batata. A água é diferente, não é que nem outro produto que tem uma concorrência e equilíbrio de mercado, se está concedendo monopólios sobre um bem essencial para a vida das pessoas”, criticou, em sua coluna na TVT.

Exemplos

Ladislau lembra que a privatização de boa parte da Sabesp, fornecedora de água em São Paulo, é um dos exemplos do problema representado pela iniciativa. “Eles vendem a água e investem muito pouco no sistema de esgoto e manutenção. A água não se produz e São Paulo desperdiça um terço dela, anualmente”, aponta.

Entretanto, algumas cidades do mundo que recorreram a privatizações de seus sistemas de água e saneamento nas últimas décadas, decidiram voltar atrás, como Berlim, Paris, Budapeste, Bamako (Mali), Buenos Aires, Maputo (Moçambique) e La Paz.

“Em diversos lugares a situação da água é diferente, se faz os pactos de uso. Em Paris, eles remunicipalizaram a água, o que reduziu a preço em 40%, e a gestão é com feita com uma comissão que possui diversos usuários”, explicou.

Assista sua coluna no Seu Jornal, da TVT