Carmen Silva, do MSTC

Mesmo com pandemia, sem-teto continuam alvos de reintegrações de posse e violência policial

No programa Brasil TVT, domingo, ativista relatou que a Justiça continua criminalizando os movimentos sociais, como os que lutam pelo direito à moradia

Arquivo pessoal/Twitter
Arquivo pessoal/Twitter
Ação policial na Favela do Moinho, centro da capital paulista: truculência de Estado contra a população pobre continua, mesmo com pandemia

São Paulo – A coordenadora do Movimento dos Sem-Teto do Centro (MSTC), Carmen Silva Ferreira, protestou neste domingo (5) contra as reintegrações de posse acionadas pelo Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), mesmo com a ameaça à vida representada pela pandemia de covid-19. “Que casa é essa que se vai ficar se o próprio Tribunal de Justiça aciona as reintegrações de posse?!”, indagou, ao participar do programa Brasil TVT (link abaixo), referindo-se às medidas de isolamento para conter a pandemia na capital paulista.

“A gente tem visto aí que acontecem muitos despejos. Junto com o MP, os movimentos sociais, mais a Defensoria Pública, a gente havia pedido que o Tribunal de Justiça não acionasse as reintegrações de posse, mas a gente não pode dizer que não há movimento de criminalização (das ocupações), porque essa semana nós tivemos um caso no Moinho, que foi a invasão da polícia e um jovem de 18 anos perdendo o movimento da mão”, afirmou.

O caso da Favela do Moinho (Campos Elíseos, centro da capital paulista), mencionado por Carmen, é mais um episódio de violência policial contra jovens negros. Desta vez, o desempregado Sidney Santos de Lima afirma em vídeo enviado à deputada Isa Penna (Psol) ter sido torturado e esfaqueado três vezes por um PM na quinta-feira (2). Isso teria ocorrido porque ele se negou a entregar o nome de uma pessoa ao policial. Sidney foi internado na Santa Casa, onde passou por cirurgia para tentar recuperar o movimento de uma das mãos. 

“A mesma tática se usa nas quadras 37 e 38 que são ali no reduto que se apelidou de Cracolândia. Então a gente vê que há uma sinalização que não é o respeito à pandemia. A gente teve várias reintegrações de posse, embora o apelo da OMS e do mundo inteiro seja de que se fique em casa.

Blog Ocupação Cambridge
Carmen: criminalização das ocupações continua, apesar da pandemia mostrar a importância do direito à moradia (Foto: Blog Ocupação Cambridge)

Na entrevista aos jornalistas Marilu Cabañas e Rafael Garcia, Carmen também comentou sobre a pobreza e a miséria invisíveis no país e os efeitos provocados pela pandemia na desigualdade. “Com a pandemia apareceu o mundo completamente invisível. A vulnerabilidade que estava escondida na sub periferias. Eu fiquei chocada em saber que o Jabaquara, que não é um bairro tão distante e tem um aspecto de bairro desenvolvido, por trás das grandes avenidas ainda tem casas de palafitas, ainda tem pessoas morando com esgoto a céu aberto. É muita gente passando fome”, afirmou.

Carmen também disse que outra invisibilidade gritante no país são os 32 milhões de brasileiros que não têm CPF, uma realidade que também foi revelada pela pandemia. “De quem é a culpa, qual é o ministério culpado por estas pessoas não terem CPF, já que é um documento tão importante na vida de qualquer cidadão. Primeiro cuidado dos movimentos é que os pessoas tenham documentos para preparar para a cidadania”, disse.

Confira a participação de Carmen Silva no Brasil TVT:

Edição: Fábio M. Michel