Manipulação psicológica

Marcia Tiburi: com Bolsonaro, o Brasil caiu nas mãos do seu torturador

“Se a gente começa a entender porque Bolsonaro faz elogios ao Ustra, entendemos o que ele está fazendo conosco”, explica a escritora e filósofa

José Cruz/EBC
José Cruz/EBC
"Ele quer fazer com que a gente acredite que ele é apenas um sujeito engraçado quando, na verdade, ele é um sujeito nefasto, de comportamento nefasto", explica Marcia Tiburi em análise sobre o governo

São Paulo – A cena do presidente Jair Bolsonaro exibindo uma caixa de cloroquina para as emas que vivem no Palácio da Alvorada, flagrada por repórteres fotográficos na última quarta-feira (22), é só um dos exemplos mais recentes de uma “estratégia de “psicopoder” empregada por ele. Essa é avaliação da escritora e filósofa Marcia Tiburi. Em entrevista a Marilu Cabañas, do Jornal Brasil Atual, ela alerta para o que está por trás “de mais um absurdo, papelão e palhaçada” do presidente da República para assim garantir: “Bolsonaro é especialista em provocar efeitos psicossociais e políticos”. 

“Com uma retórica do desnorteio, da alucinação e com esse tipo de performance que faz parecer com que ele seja um bobo da corte, um louco, ou um personagem do teatro do absurdo como o Ubu Rei, que é bastante conhecido na literatura. Com esse tipo de estratégia ele quer fazer com que a gente acredite que ele é apenas um sujeito engraçado quando, na verdade, ele é um sujeito nefasto, de comportamento nefasto. E, ao meu ver, o momento em que fomos pegos na armadilha foi o momento em que ele fez o elogio a (Carlos Alberto Brilhante) Ustra. Mostrando que ali tinha uma estratégia de psicopedagogia da tortura, de fazer o terror psicológico”, explica a filósofa.

Marcia Tiburi lembra do dia 17 de abril de 2016: a votação do impeachment da presidenta Dilma Rousseff do poder. A ocasião ficou marcada pela declaração de Bolsonaro, na época deputado. Ao justificar seu voto a favor do impeachment, ele prestou uma homenagem a um dos principais torturadores da ditadura civil-militar, dizendo votar em nome de Ustra, “o terror de Dilma Rousseff”. 

Brasil segue sendo torturado

Desde então, segundo a escritora e filósofa, parte da população brasileira está imersa em uma “síndrome de Estocolmo”. Um estado psicológico que justifica a aproximação das vítimas aos seus algozes. “Em que começam a defender seus torturadores, sequestradores, espancadores, as pessoas que lhe fazem mal. E isso seria justamente uma estratégia psíquica, que é efeito do medo, do pavor no qual o algoz coloca à sua vítima”, comenta Marcia Tiburi. 

É por isso que em texto recente, publicado na revista CartaCapital, a filósofa é categórica ao afirmar que “o Brasil caiu nas mãos do seu torturador e segue sendo torturado por ele”. 

“Se a gente começa a entender porque Bolsonaro faz elogio ao Ustra, a gente entende o que o Bolsonaro está fazendo conosco, os brasileiros”, observa. 

Para ela, há ainda por trás da eleição um elemento de “baixa autoestima que os brasileiros têm em relação a eles mesmo”. “Se os brasileiros se amassem mais, teriam votado em alguém melhor, alguém elegante, respeitável, digno, inteligente, culto, ou, pelo menos uma pessoa que tivesse bom coração, mas nem isso”, observa. Em um país que confirma seu diagnóstico de “enfermo”, o remédio, garante Marcia Tiburi, é uma psicanálise coletiva. “Mas é preciso derrubar Bolsonaro e os bolsonaristas, isso é fundamental”, adverte.


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