SEM SEGURANÇA

Mesmo com autorização para funcionar, alguns bares e restaurantes continuam fechados em São Paulo

Estabelecimentos temem pela saúde de seus funcionários e a falta de retorno financeiro

Tomaz Silva/Agência Brasil
Tomaz Silva/Agência Brasil
Autorização de reabertura, feita por Doria, ordena que os bares e restaurantes abram das 11h às 17h

São Paulo – No último sábado (4), o prefeito de São Paulo,, Bruno Covas (PSDB), assinou protocolos estabelecendo regras para a reabertura de bares, restaurantes e salões de beleza. Entretanto, um grupo de donos de estabelecimentos continua fechado, com medo de expor seus funcionários e também em função do baixo movimento esperado.

Reportagem feita pela BBC Brasil mostra que os comerciantes não se sentem seguros com as regras implementadas, como o horário fixo de funcionamento e lotação de até 40% da capacidade local. “Achamos os protocolos (de reabertura) vagos e, em alguns casos, sem sentido. Por que abrir apenas para o horário do almoço e fechar à noite? Não há nenhuma pesquisa mostrando que o coronavírus se propaga mais à noite”, criticou Gabriel Pinheiro, dono da pizzaria Villa Roma, com unidade na avenida Paulista, centro da capital, e outra no Tatuapé, na zona leste.

‘Suicídio’

Com a falta de segurança para funcionários e clientes e expectativa de baixo movimento, os donos dos estabelecimentos dizem ter receio de ir à falência. Gerson Higuchi, dono do restaurante Apple Wood, no bairro da Anália Franco, também na zona leste, diz que a maior parte do seu faturamento vem do movimento à noite. “Quem vai vir almoçar se as pessoas não estão trabalhando nos escritórios?”, questiona.

A autorização de reabertura estabelece que os bares e restaurantes possam abrir das 11h às 17h. “Não faz sentido para nós abrir só de manhã se nossos clientes estão trabalhando em home office“, explica Gabriel.

O dono da pizzaria afirma que manter o local funcionando aumentará seus gastos e o retorno não será o mesmo. “Suspendemos os contratos de 70% do nosso pessoal. Se reabrir, teria de trazê-los de volta sem perspectiva de que o faturamento iria aumentar novamente”, acrescenta.

Já Gerson lembra que a população ainda não se sente segura para ficar em locais fechados. “Nós ainda não atingimos o pico da pandemia. Agora, no inverno, os casos podem aumentar e, possivelmente, o governo terá de fechar novamente o comércio. Entendo quem está desesperado, também estou. Mas preferi esperar do que reabrir agora e ter de fechar de novo daqui a 30 dias. Reabrir agora é suicídio, significa falência”, explica.

Sem faturamento

A matéria de Leandro Machado, da BBC Brasil também ouviu o presidente da seção paulista da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), Percival Maricato. Ele acredita que muitos estabelecimentos da cidade não têm capacidade financeira para reabrir nesta semana. A entidade negocia uma flexibilização ainda maior, com aumento do horário permitido até o período noturno e o fim da restrição do uso de mesas nas calçadas.

Facundo Guerra, proprietário das baladas Riviera e Cine Joia, ambas em São Paulo, diz que a reabertura do setor é uma “vitória mutilada”. “Abrir agora significa expor meus funcionários, meus cliente e eu mesmo. Os números estão aí. Não achatamos a curva de infecções nem chegamos no pico da pandemia.”

Ele defende que os restaurantes continuem fechados e acrescenta que não há motivo para sair e beber com os amigos, em tempos de pandemia, “Os shoppings reabriram e continuam vazios. Já os bares são locais de celebração, e hoje não temos nada para celebrar. Entendo as pessoas que querem retomar os negócios, mas acho uma decisão equivocada. Não há garantia de que o investimento para a reabertura agora será recompensado”, acrescenta.