Vidas em jogo

‘Esporte pela Democracia’: atletas lançam movimento contra racismo e autoritarismo

Coletivo reúne esportistas de diferentes modalidades e cobra posicionamento de mais personalidades

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Posicionamento das personalidades do esporte ocorre dias após as manifestações em defesa da democracia, no último domingo (31)

São Paulo – Um grupo de jogadores e ex-atletas lançou, nesta terça-feira (2), o movimento Esporte pela Democracia, que conta com a presença de personalidades como Raí, Walter Casagrande, Grafite, Igor Julião, Ana Moser e Joanna Maranhão. Por meio de manifesto publicado nas redes sociais, os atletas buscam firmar um compromisso com a democracia, o respeito à diversidade e a luta contra o racismo e o autoritarismo. Entretanto, eles alertam sobre o momento político e sanitário do país.

“A tentativa contínua de destruição da democracia se mostra de forma clara e direta por inúmeras medidas autoritárias. Testemunhamos diariamente desrespeito à Constituição, o uso desvirtuado da política em benefício de poucos, ataque às instituições democráticas e ameaças ditatoriais”, afirmam.

O posicionamento das personalidades do esporte ocorre dias após as manifestações em defesa da democracia, promovidas pelas torcidas organizadas e antifascistas, no último domingo (31).

Igor Julião, jogador do Fluminense, afirma as ações incentivaram na criação do movimento. “As manifestações antirracistas no mundo e a favor da democracia tiveram influência. Eu sempre digo que o futebol é o esporte do povo e ver todas as torcidas juntas se manifestando a favor da democracia foi lindo”, disse à RBA.

Democracia em jogo

O Esporte pela Democracia reúne atletas de diferentes modalidades e decide as ações via do WhatsApp. O ex-tenista Gustavo Kuerten, o Guga, e o ex-jogador de vôlei Serginho, além de jornalistas como Juca Kfouri e José Trajano também integram o coletivo.

A nadadora Joanna Maranhão afirmou, pelas redes sociais, que os atletas precisam se posicionar diante do retrocesso que vive o país. “Não existe esporte sem luta pela democracia. Não existe democracia em uma sociedade racista. Ainda que o sistema esportivo se retroalimente do silêncio e conivência dos atletas, a gente está aqui pra falar”, publicou.

Ex-jogador e atual dirigente do São Paulo, Raí explica que o Brasil enfrenta uma crise política motivado pelo autoritarismo do governo federal. “Minha postura é em favor da democracia, de viver em um país onde há um debate construtivo. Não me envolvo com polêmicas, mas quando vejo tanta injustiça social, que vidas estão sendo ameaçadas pelo vírus, eu falo. O presidente foi eleito democraticamente, mas você precisa ouvir a ciência, os especialistas e não colocar em risco a vida das pessoas”, disse em entrevista à rádio francesa RFI.

Julião acrescenta que o movimento é um empurrão para que mais atletas possam se manifestar. “A gente espera alcançar o máximo de pessoas ligadas ao esporte e juntar nossa voz pra alertar e conscientizar a todos. É preciso nos organizarmos e lutarmos por pautas que são essenciais “, acrescentou.

Antirracismo

A nota publicada pelo Esporte pela Democracia também cita o racismo e lembra dos recentes assassinatos de negros, como o garoto João Pedro, no Rio de Janeiro, e o estadunidense George Floyd. “A banalização da vida negra soma historicamente milhares e milhares de mortos por violência, discriminação, práticas racistas diárias bem diante dos nossos olhos”, critica o texto.

O ex-jogador e comentarista Walter Casagrande publicou um vídeo nas redes sociais e comentou sobre o assunto. “Isso acontece constantemente no Brasil. Eu sou contra o racismo, homofobia e todos os preconceitos. Nós temos que nos posicionar e não podemos aceitar mais atitudes de ódio na nossa sociedade. Temos que brigar pela nossa paz.”