carga pesada

Estudo da Fiocruz mostra que mulheres são mais afetadas pela pandemia

Entre as entrevistadas, 26,4% afirmam que o trabalho doméstico aumentou muito, percentual mais de duas vezes maior que o dos homens, 13,1%

Pixabay
Pixabay
Situação é ainda pior para as mulheres que têm crianças pequenas em casa e moradores idosos precisando de cuidados especiais

São Paulo — A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) divulgou na sexta-feira (22) uma pesquisa com mais de 40 mil pessoas que responderam a um questionário online sobre as mudanças vividas durante o isolamento social no período da pandemia. E os resultados apontam que as mulheres foram mais afetadas que os homens.

Os dados coletados entre 24 de abril a 8 de maio tiveram como objetivo descrever as mudanças na rotina, no trabalho, no estado de ânimo e também nos aspectos socioeconômicos. As mulheres relataram mais problemas no estado de ânimo: as que se sentem tristes ou frequentemente deprimidas foram 50% das entrevistadas, enquanto para os homens esse percentual chegou a 30%. O índice de quem disse ter se sentido ansioso ou nervoso no período foi de 60% para as entrevistadas, chegando a 43% no segmento masculino.

Os números podem ser explicados, entre outros fatores, pelo excesso de trabalho que cabe a elas durante a pandemia: 26,4% delas afirmam que o trabalho doméstico aumentou muito, percentual mais de duas vezes maior que o dos homens, 13,1%. O que implica em dificuldades maiores também para a execução de atividades relacionadas ao emprego de forma geral, em especial quando há home office.

“Foi um acúmulo de trabalho que as mulheres tiveram relativo aos serviços domésticos. E muitas mulheres que trabalham fora tem as crianças em casa, precisam fazer a comida e outras atividades. Os cônjuges podem estar ajudando, mas os encargos maiores estão ficando realmente com as mulheres”, aponta a pesquisadora Celia Landmann Szwarcwald, do Icict/Fiocruz e coordenadora do levantamento. Ela destaca que a situação é ainda pior para as mulheres que têm crianças pequenas em casa e moradores idosos precisando de cuidados especiais.

Celia pontua alguns dados que surpreenderam a equipe que elaborou a pesquisa. “Um deles foi que 30% tiveram algum sintoma de gripe, mas somente 4% fizeram o teste para ter diagnóstico (de coronavírus). Destes, 30% receberam resultado positivo e 20% na época da pesquisa ainda não tinham recebido o resultado”, conta.

Aumento do consumo de álcool e cigarro

Ela alerta para o aumento no consumo de cigarros: entre as mulheres fumantes, o aumento do percentual de quem passou a acrescentar o consumo de dez cigarros por dia foi de 29%, índice que é de 17% entre os homens. Na pesquisa, 18% dos entrevistados relataram que o consumo de bebidas alcoólicas aumentou no período, número que chega a 29% entre as pessoas que têm entre 30 e 39 anos.

“Os cuidados com a saúde são muito importantes. Conseguimos reduzir nossa proporção de fumantes para 12%, mas há pessoas que estão aumento o consumo de cigarros. A mesma coisa para bebidas, e esses comportamentos são associados às perdas socioeconômicas e preocupações de forma geral”, conta ela.

Os impactos socioeconômicos também preocupam, reforçando a necessidade de o Estado prover meios para dar segurança econômica às pessoas. O levantamento mostra que 55% das pessoas sofreram queda no rendimento familiar e 7% ficaram sem qualquer rendimento. As perdas foram piores para as pessoas com renda per capita inferior a meio salário mínimo, segmento no qual a perda de rendimentos atingiu 64%,

Os cuidados durante o isolamento, que continua sendo necessário

Mesmo com os impactos, as medidas de distanciamento social continuam sendo necessárias para conter o avanço da pandemia do coronavírus. O importante, segundo a pesquisadora, é trabalhar para reduzir os efeitos do isolamento e manter a saúde física e mental por meio de hábitos saudáveis.

“O isolamento social é muito necessário porque não conseguimos ainda diminuir o número de óbitos. Temos as experiências de outros países que mostram que vai haver uma diminuição dos óbitos e dos leitos de UTI e a partir daí teremos o relaxamento do isolamento”, diz Celia. “O grande problema é o sistema de saúde, se não for feito o isolamento ocorre o colapso do sistema, que já era carregado em alguns lugares e com a pandemia fica ainda mais sobrecarregado.”

A pesquisadora faz algumas recomendações para melhorar a sensação de bem estar durante o isolamento. “Precisamos tomar os mesmos cuidados tomados anteriormente, comer alimentos saudáveis, frutas e vegetais, e fazer exercícios físicos, mesmo nos espaços restritos dentro de casa. Até porque a atividade física dá um bem estar à pessoa e melhora o estado de ânimo.”

“Em vez de ficar só no tablet, jogando videogame ou vendo as notícias na televisão, é preciso diversificar as opções para relaxar, como uma leitura boa, fazer coisas em casa que não tinha feito anteriormente, experimentar novas receitas.”


Leia também


Últimas notícias