Irresponsabilidades

Doria e Covas ignoram média diária de mais de 100 mortes na capital e decidem reabrir shoppings

Governos iniciam flexibilização da quarentena exatamente uma semana após comitê de saúde declarar que o estado estava ‘perdendo a batalha contra o vírus’

Governo de SP/Divulgação
Governo de SP/Divulgação
Doria e Covas contrariam as recomendações de saúde que dizem seguir e anunciam flexibilização da quarentena na capital e no estado de São Paulo

São Paulo – Ignorando uma média de aproximadamente cem mortes por dia pela covid-19 na capital paulista, o governador de São Paulo, João Doria, e o prefeito da capital, Bruno Covas, ambos do PSDB, anunciaram hoje (27) o início da flexibilização da quarentena na cidade de São Paulo, a partir de 1º de junho. A cidade se enquadra na chamada fase 2-laranja do nível de restrição do Plano São Paulo, podendo abrir shoppings, comércio em geral, atividades imobiliárias, concessionárias de veículos e escritórios, com adequação aos protocolos de saúde elaborados pelo comitê econômico do governo paulista. As demais cidades da região metropolitana, no entanto, vão permanecer com abertura apenas de serviços essenciais até nova avaliação.

Segundo Doria, todas as regiões do estado serão monitoradas e, caso seja constatado um novo aumento do número de casos e de mortes, ou aumento da ocupação das Unidades de Terapia Intensiva (UTIs, poderão ser definidas retomadas nas restrições. Mas se tiver melhora no quadro durante 15 dias, passará a uma fase de maior abertura. “Será uma retomada consciente e segura das atividades econômicas. Ações fundamentadas na ciência e não no que o governador ou o prefeito desejam”, disse o tucano.

No entanto, o discurso contradiz a própria diretriz estabelecida pelo Comitê de Contingência do Coronavírus de São Paulo. Segundo o colegiado de especialistas em saúde, para uma reabertura segura, seria preciso uma redução consistente no número de casos por 15 dias seguidos, taxa de ocupação de UTI de 60% ou menor e adesão ao isolamento social mínima de 55%. A capital paulista não atingiu nenhuma dessas condições.

A flexibilização da quarentena é oficializada apenas uma semana depois de o coordenador do comitê de contingência, Dimas Tadeu Covas, declarar que a situação era muito grave em São Paulo. “Estamos perdendo essa batalha contra o vírus, essa é a realidade. O vírus neste momento está vencendo a guerra”, disse Dimas.

Naquele momento, o estado São Paulo tinha 65.995 casos confirmados de covid-19 e 5.147 pessoas mortas. A ocupação dos leitos de UTI estava em 71,4% em todo o estado e em 88% na região metropolitana da capital paulista.

Ontem o estado registrou 86.017 casos confirmados da doença e 6.423 óbitos. Foram 20.022 casos (31%) e 1.276 mortes (25%) a mais em uma semana. Já a capital paulista tem 51.852 casos confirmados e 7.138 mortes em casos suspeitos ou confirmados de covid-19, aumento de 543% nas mortes entre 9 de abril e 25 de maio.

Pedro Tourinho, médico sanitarista, professor universitário, vereador e presidente da Comissão de Saúde da Câmara Municipal de Campinas, no interior, considera o plano de Doria absurdo. “Considero um risco absurdo a reabertura, mesmo que parcial, de qualquer setor nesse momento. O sistema de saúde está próximo aos seus limites e o razoável a ser feito hoje seria intensificar e fiscalizar rigorosamente a adesão ao isolamento, seguir fortalecendo nossa capacidade de testagem, rastreamento e ampliação de leitos. Ao mesmo tempo, medidas de apoio econômico e social deveriam ser muito melhor instituídas.”

Ele lembrou que a Organização Mundial da Saúde estabelece critérios claros para uma flexibilização da quarentena. “A transmissão da doença deve estar sob controle, com queda sustentada por um período razoável de tempo do número de novos casos. O sistema de saúde deve ser capaz de detectar, testar, isolar e tratar todos os casos e de rastrear todos os contatos de casos positivos”, apontou. Além disso, é preciso que a população esteja bem adaptada ao novo cenário e às condições necessárias para retomar as atividades em segurança.

O plano

Além de São Paulo, as regiões metropolitanas ou administrativas de Campinas, Taubaté, Piracicaba, Sorocaba, Marília, São João da Boa Vista, Ribeirão Preto, Franca, São José do Rio Preto e Araçatuba também poderão reabrir shoppings, comércio em geral, atividades imobiliárias, concessionárias de veículos e escritórios.

O Plano São Paulo compreende cinco fases de abertura, da fase 1-vermelha, mais restrita, com abertura apenas de serviços essenciais, até a fase 5-azul, com abertura de todos os setores.

As regiões de Barretos, Araraquara, Presidente Prudente e Bauru poderão ir além e reabrir bares, restaurantes e salões de beleza. E não vão mais precisar de restrições nas atividades imobiliárias, concessionárias de veículos e escritórios. Eles estão inseridos na fase 3-amarela do Plano São Paulo. Já a região metropolitana da capital, a Baixada Santista, o Vale do Ribeira e a região de Registro estão classificadas na fase-1 vermelha, mantendo apenas serviços essenciais abertos.

Ainda segundo o plano, na fase 4-verde poderão ser reabertas as academias. E na fase 5-azul, todas as atividades deixarão de ter restrições. Apesar disso, espaços públicos como parques, clubes e centros esportivos, escolas, teatros, cinemas e eventos que promovam aglomeração de pessoas, seguirão fechados ou proibidos por tempo indeterminado.