Vida e ditadura

Após encontrar família que não via há 53 anos, ex-militante morre aos 100

História só foi descoberta porque idosa teve de fazer exame de corpo de delito após ser agredida em tentativa de assalto

Luciene Anacleto/Divulgação
Luciene Anacleto/Divulgação
Dona Leonor, a Nô, morava em Tocantins e foi levada para Minas em abril

São Paulo – Leonor Carrato, a Nô, morreu na tarde desta segunda-feira (11), aos 100 anos. Ela foi militante política, separou-se da família em 1967 para viver na clandestinidade e só foi redescoberta poucas semanas atrás, quando precisou fazer exame de corpo de delito. A história foi revelada pelo Jornal do Tocantins na edição do dia 1º de maio.

Tudo começou a vir à tona depois que uma ocorrência chegou à 4ª Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher e Vulneráveis, em Colinas do Tocantins (TO), a 270 quilômetros de Palmas, a capital. Uma idosa havia sofrido tentativa de assalto, em sua casa, e agredida por usuários de drogas.

A agente policial que foi cuidar da ocorrência conta que ficou chocada com as condições em que essa senhora vivia, em um local com lixo, goteiras, sujeira acumulada, poucos móveis e roupas. Um ambiente que o jornal descreveu como se fosse o de um cativeiro humano.

Com a família

A moradora solitária foi identificada como Maria Lidia Martino. Mas, depois de muita insistência, a até então desconfiada senhora resolveu revelar sua história. Contou que seu nome verdadeiro era outro e que ela havia deixado a família em Minas Gerais, em 1967, para combater a ditadura.

Em abril, Leonor Carrato foi para Andradas (MG). Estava morando na casa de uma sobrinha, Leila Anacleto, de 80 anos. Estava debilitada, mas hoje havia se alimentado normalmente. “Eu acho que ela veio para morrer no seio da família”, disse Leila ao jornal.

Não haverá velório, por causa da pandemia. O enterro será amanhã. Um dos 10 irmãos de Nô, João, 99 anos, está vivo e mora em São Paulo.


Leia também


Últimas notícias