"Ano extremamente violento"

Violência cresce no campo em 2019, com cinco conflitos por dia e 32 assassinatos

Número de conflitos foi o maior em 15 anos. Entre os assassinados, nove indígenas, sete sem-terra e cinco assentados. Quase metade dos mortos era de lideranças

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Foram mais de 1.800 conflitos, envolvendo 859 mil famílias. Mais de cinco conflitos por dia em 2019

São Paulo – “Foi um ano extremamente violento”, disse o coordenador nacional da Comissão Pastoral da Terra (CPT), Paulo César Moreira, no início da divulgação dos dados sobre conflitos no campo em 2019. De acordo com a Pastoral, foram 1.833 conflitos, 23% a mais do que no anterior e a maior quantidade dos últimos 15 anos, lembrou o jornalista Antônio Canuto, colaborador e nome histórico da CPT.

O número representa cinco conflitos a cada dia. Daquele total, 1.254 estavam relacionados à terra e 489 à água, enquanto 90 tiveram origem trabalhista.

O número de pessoas envolvidas caiu 11%, para 859.023. Mas o total de assassinatos cresceu 14%, atingindo 32. Quase metade (47%) foram lideranças, indígenas ou rurais. Houve ainda 30 tentativas de assassinato (7% a mais) e 201 ameaças de morte (crescimento de 21%).

Índios, mulheres, sem-terra

Conforme a CPT, 102 mulheres do campo sofreram algum tipo de violência. Das mortes, 28 foram por conflitos de terra, três relacionados a questões trabalhista e uma à água.

Das 32 mortas, nove eram indígenas, sendo sete lideranças. E sete eram sem-terra (três lideranças). A lista de assassinados inclui ainda assentados (cinco), trabalhadores rurais (três) e posseiros (três). A relação da CPT tem um caso envolvendo sindicalista, outro de “aliado” ao movimento, um ambientalista, um funcionário público e um pequeno proprietário.

Apenas os conflitos por terra (1.254, crescimento de 12%) envolveram 114.742 famílias, 23% a mais. Entre os estados, houve 174 registros no Maranhão, 150 no Pará e 139 na Bahia.

Paulo César destaca a maior vulnerabilidade, em 2019, de comunidades tradicionais e povos indígenas. Ao destacar que hoje se lembram os 24 anos do massacre de Eldorado dos Carajás, onde 19 sem-terra foram mortos, destacou a impunidade dos crimes: de 1.500 assassinatos do período da redemocratização até 2018, “menos de 100 foram julgados”.

Segundo Canuto, no ano passado, houve uma “tragédia nacional no Planalto Central”, em referência ao novo governo. “Nunca houve uma agressão tão direta de quem ocupa o primeiro posto do Brasil contra os povos indígenas, os quilombolas, as pessoas que trabalham no campo”, afirmou.

Isso em um ano ainda marcado por tragédias ambientais. O CPT lembra os casos de Brumadinho (MG), o aumento de focos de incêndio na Amazônia e o vazamento de óleo na região Nordeste.


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