São Paulo

Monotrilho não suportou a demanda de passageiros, admite secretário de Doria

Estouro de pneu que levou ao fechamento do monotrilho em 27 de fevereiro se deu porque o sistema foi mal projetado para a demanda atendida

Diogo Moreira/Governo SP
Diogo Moreira/Governo SP
Governo Doria admite que problema com o monotrilho é de projeto e que sistema não suportou a demanda

São Paulo – O secretário estadual dos Transportes Metropolitanos de São Paulo, Alexandre Baldy, admitiu ontem (22) que o problema que levou ao estouro de pneus no monotrilho da linha 15-Prata do Metrô (São Mateus/Vila Prudente) é que os trens foram mal projetados para atender a demanda de passageiros da zona leste da capital paulista. “Foi necessário fazer a troca de parte das peças do jogo de rodas, que não suportaram o volume de passageiros. Portanto, houve sim o reconhecimento de que o projeto não estava adequado”, disse Baldy, em entrevista à Rádio Bandeirantes, com base em relatório feito pela Bombardier, fabricante dos trens.

Segundo o secretário, também foram detectados 195 pontos com defeito na via que os trens percorrem, o que também influenciou no desgaste do sistema de pneus. Esses locais passaram por manutenção e os jogos de pneus das 27 composições que operam no monotrilho foram trocados. Para Baldy, essas condições demonstram que o sistema acabou mal projetado para a demanda de passageiros, que chegou a 130 mil passageiros por dia em dezembro de 2019, mas está projetada para até 400 mil passageiros com todas as estações operando.

Baldy disse que o monotrilho está pronto para ser reaberto com operação parcial, mas o governo paulista vai manter a linha 15-Prata fechada até o fim da quarentena no estado, por conta da pandemia de coronavírus.

Para Wagner Fajardo, coordenador do Sindicato dos Metroviários de São Paulo, as informações divulgadas pelo secretário apenas confirmam o que os trabalhadores sempre apontaram. “Sempre dissemos que o monotrilho não era adequado e, mais grave, que tinha sérios problemas de projeto, como indica a forte trepidação que ocorre nos trens. A concepção da linha 15-Prata contrariou todos os pareceres técnicos que apontavam que o modal não era adequado para aquela região. Não havia modelo similar no mundo para esta demanda”, disse Fajardo.

O monotrilho está paralisado desde o dia 29 de fevereiro, dois dias após o estouro de pneus da composição M20 e uma sucessão de falhas ocorridas nos dias anteriores. Inicialmente, o Metrô descartou que um problema na via tivesse levado ao estouro dos pneus. Foi aventado se houve um defeito no sistema RunFlat, equipamento que substitui o pneu em caso de problema. Um pedaço dessa estrutura foi encontrado na rua, próximo do local onde os pneus estouraram. Agora, se admite que o problema era tanto nos trens como na via.

O governo paulista anunciou que vai processar o consórcio e avalia prejuízo de R$ 1 milhão por dia com a paralisação da linha 15-Prata do Metrô. “O governo do estado tem estudado todas as possibilidades das punições que ocorrerão. Diariamente, nós temos um prejuízo na ordem de R$ 1 milhão, que será sim cobrado do consórcio e da Bombardier, assim que for declarada a responsabilidade desse problema e eles vão ser acionados sim na Justiça para que possam ressarcir todos os prejuízos”, disse Baldy.

O Ministério Público Estadual e o Tribunal de Contas do Estado estão realizando ações para investigar os problemas e as responsabilidades. Deputados do PT protocolaram pedido de abertura de CPI na Assembleia Legislativa.

Falhas no monotrilho

O monotrilho da Linha 15-Prata acumula falhas desde o início da operação, muitas delas graves. Falha de sinalização são constantes e provocam redução de velocidade repetidamente. A trepidação constante também é considerado um problema grave, que pode ter levado a soltar parafusos e peças no ano passado.

Em 29 de janeiro do ano passado, as composições M22 e M23 se chocaram na estação Jardim Planalto e o acidente não foi pior porque operador percebeu a falha no sistema automático e acionou o freio de emergência. À época, foram constatados problemas no CBTC, sistema adquirido por um R$ 1 bilhão pelo governo paulista, mas que ainda apresenta muitas falhas e inconsistências.

Em outubro de 2016, um trem da Linha 15-Prata deixou a plataforma com as portas abertas, colocando em risco a vida dos passageiros, já que o monotrilho circula a uma altura média de 15 metros, sobre pilastras. Pouco antes, duas mulheres quase ficaram presas entre as portas da plataforma e da composição, ao tentar ingressar no vagão quando as entradas reabriram.