"Leis" do mercado

Efeito coronavírus: gás de cozinha chega a R$ 130 na periferia de São Paulo

Vários pontos de venda estão fechados por falta de gás de cozinha. Os que ainda tem, estão distribuindo senhas e não atendem mais por telefone

RBA
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Em vários bairros das periferias de São Paulo, pontos de venda de gás de cozinha estão fechados por falta do produto

São Paulo – Em meio à pandemia de coronavírus, pontos de venda de gás de cozinha na capital paulista estão fechados por falta de gás há mais de uma semana. Os que ainda têm estão distribuindo senhas e não fazem mais atendimento telefônico para entregas. Por conta disso, longas filas têm se formado na porta dos depósitos e a população tem de esperar por horas ou ir para outros bairros em busca do produto. “Faz dois dias que acabou o gás em casa e eu ainda não consegui comprar. Estou cozinhando na minha sogra, que trocou o dela recentemente. É muito preocupante, disseram que não ia faltar essas coisas”, lamentou a costureira Maria de Fátima Costa.

Moradora da Vila Maria, na zona norte da cidade, ela já tinha passado por três pontos de venda de gás de cozinha na tarde da quarta-feira (1º). E estava em uma fila com cerca de 30 pessoas na frente dela, com a promessa de que o gás chegaria até o final da tarde. “Se já está assim agora, o que vai ser daqui um mês? O pessoal do depósito disse que não é falta, é que as pessoas estão estocando, então a reposição está demorando”, explicou.

Um funcionário do depósito, que pediu para não ser identificado, confirmou a versão e disse que desde a semana passada não estão atendendo pedidos por telefone.

A reportagem visitou cinco depósitos na região norte da cidade, três estavam fechados e dois com longas filas, sem previsão clara da chegada de novos botijões de gás de cozinha. Onde havia, o preço variava de R$ 80 a R$ 100, mas pode chegar a R$ 130, segundo relatos de pessoas que aguardavam nas filas.

Falta estranha

A situação é a mesma na zona leste. A comunicadora social Juliana Gonçalves, moradora da Vila Ré, relata que o bairro sofre com a falta de gás de cozinha há cerca de uma semana. “A gente tem ligado, não só eu como outras pessoas da minha família, para esses serviços de entrega de gás e ninguém atende. Tinha uma galera que passava vendendo na rua e não passa mais. Eu ainda consegui a R$ 70, mas tem lugares cobrando mais de R$ 100. O gás não é algo que a pessoa compra hoje e precisa comprar na semana que vem, é muito estranha essa falta de gás”, afirmou.

Juliana teve de rodar pelo bairro para encontrar gás de cozinha à venda. “Eu passei em frente a um estabelecimento e vi algumas pessoas. Estava fechado, mas eu vi algumas pessoas na porta, umas três ou quatro pessoas com botijão de gás. A gente parou o carro e fui lá perguntar. O atendente disse que ia chegar dali uns quarenta minutos. Fiquei na fila, recebemos uma senha. Mas eu fiquei nessa fila quase duas horas e meia, não foi quarenta minutos. O caminhão chegou, só descarregou setenta botijões de gás de cozinha, que era quem tinha recebido a senha e depois foi embora”, contou.

População espera por horas, em fila, a chegada de gás de cozinha em depósito na zona sul

Na Vila São José, na zona sul, a cabeleireira Tatiana Acácia de Oliveira também relatou dificuldades para a família conseguir gás. “A minha mãe foi na fila para o meu tio que estava sem gás já há dois dias. Ele não conseguia ir no horário, porque tinha que ir bem cedinho. Pegou a senha quarenta e sete. E o pessoal que foi chegando atrás da gente não tinha mais senha. A atendente falou que não sabia como ia ficar a situação, porque o gás está vindo do interior e a demanda está muito grande”, contou.

A Agência Nacional de Petróleo (ANP) informou que o disparo nos preços é um problema pontual e que a população não precisa estocar o produto. “O abastecimento está normal. Em alguns lugares pode ter faltado botijão porque houve aumento da demanda, por dois motivos: primeiro, as pessoas estão comendo em casa, gastando mais gás; o segundo motivo é que possivelmente também tem gente estocando, desnecessariamente, devido à quarentena”, informou a agência.