São Paulo

MP quer explicações do presidente do Metrô sobre problemas no monotrilho

Linha 15-Prata do monotrilho está paralisada há 12 dias por um estouro de pneus e ainda não há previsão para reabertura do trecho

Diogo Moreira/Governo SP
Diogo Moreira/Governo SP
Governo Doria admite que problema com o monotrilho é de projeto e que sistema não suportou a demanda

São Paulo – O promotor de Justiça Silvio Antonio Marques determinou hoje (11) a abertura de inquérito para apurar os problemas no monotrilho da Linha 15-Prata (Vila Prudente/São Mateus) do Metrô. O trecho está paralisado há 12 dias, por conta do estouro de pneus da composição M20, em 27 de fevereiro. O presidente da companhia, Silvani Pereira, foi intimado a prestar esclarecimentos em oitiva na promotoria na próxima quarta-feira (18).

Também terão de prestar informações a fabricante de trens Bombardier, que produziu o monotrilho, o Consórcio Expresso Monotrilho Leste (CEML), que inclui as construtoras Queiroz Galvão e OAS, a Secretaria de Estado dos Transportes Metropolitanos e o Metrô. O inquérito foi aberto a partir de representação dos deputados estaduais Paulo Fiorillo e José Américo, ambos do PT.

O promotor relaciona os vários problemas apresentados pelo monotrilho desde a sua abertura em 2016. Marques mencionou as constantes falhas de sinalização que provocam redução de velocidade repetidamente e o choque entre as composições M22 e M23 na estação Jardim Planalto, em 29 de janeiro do ano passado. Lembrou também que, em outubro de 2016, um trem deixou a plataforma com todas as portas abertas, colocando em risco a vida dos passageiros, já que o monotrilho circula a uma altura média de 15 metros do chão. Pouco antes, duas mulheres quase ficaram presas entre as portas da plataforma e da composição, ao tentar ingressar no vagão quando as entradas reabriram.

Marques quer que o Metrô apresente informações a respeito das irregularidades, identifique os responsáveis pelos diversos problemas ocorridos na Linha 15-Prata, especialmente as paralisações no funcionamento a partir de fevereiro. E esclareça quais medidas foram tomadas para apurar as responsabilidades, aplicar eventuais penalidades e retomar a normalidade na operação do Monotrilho. O promotor também quer saber o prejuízo total sofrido pelo estado por conta da substituição dos trens do Monotrilho por ônibus do Plano de Atendimento entre Empresas de Transporte em Situação de Emergência (Paese).

O promotor também solicitou ao Centro de Apoio Operacional à Execução do MP a realização de vistoria para verificar a existência de eventuais problemas no projeto ou na execução de obras civis da Linha 15-Prata e a existência de falhas ou defeitos de trens. “O ministério público assume um papel importante nesse momento que a população sofre com a falta de um transporte público importante como é o monotrilho da zona leste. Estamos há 12 dias com trens parados e ninguém oferece respostas. É muito significativa essa abertura de inquérito, porque vamos poder colocar luz sobre o problema e entender o que está acontecendo”, afirmou o deputado Fiorillo.

Ainda não há previsão de reabertura da linha para os passageiros. O Metrô solicitou à São Paulo Transporte (SPTrans) o fornecimento de ônibus da operação Paese até o próximo domingo (15). O pedido pode ser renovado. Segundo informações de um funcionário da Linha 15, que pediu para não ser identificado, até agora não foi descoberto o motivo que fez os pneus estourarem. A expectativa é que o sistema fique fechado, pelo menos, até dia 17. Com a criação do grupo de trabalho por 30 dias, a expectativa de reabertura fica ainda mais incerta. Técnicos da fabricante de trens Bombardier estão verificando os pneus de todas as 23 composições que operam na linha.

O metroviário também afirma que a companhia não está trabalhando com transparência. Somente os técnicos da Bombardier podem participar da inspeção dos trens. Os trabalhadores do Metrô são impedidos de se aproximar da área. Para se aproximar do local é preciso solicitar uma autorização do Centro de Controle Operacional (CCO) e um supervisor acompanha o profissional até o local, onde também é impedido uso de celular ou qualquer outra tecnologia que possa registrar o trabalho que está sendo realizado.

Ontem (10), Silvani Pereira criou um grupo de trabalho com os gerentes dos setores de manutenção, projetos, empreendimento e operação para, por 30 dias, acompanhar, avaliar e registrar os trabalhos desenvolvidos pela fabricante de trens Bombardier, na tentativa de descobrir o que provocou o estouro de cinco pneus do monotrilho. O grupo deverá apresentar um relatório com as conclusões da investigação sobre o problema até 5 de abril.

No último dia 3, o Sindicato dos Metroviários de São Paulo cobrou transparência do governo de João Doria (PSDB) sobre o motivo do problema e os riscos para a população. “No primeiro momento, o governo de São Paulo mentiu sobre o motivo do fechamento da linha. Precisou a situação ficar muito grave para assumir o problema, porque ia ter a volta efetiva das aulas após o retorno do carnaval. O que mostra que o problema é grave”, afirmou a coordenadora do sindicato Camila Lisboa. Segundo o Metrô, pneus de outras composições apresentaram desgaste prematuro. Os pneus são um projeto específico da Bombardier e devem durar aproximadamente 100 mil quilômetros.

Inicialmente, o Metrô descartou que um problema na via tivesse levado ao estouro dos pneus. Foi aventado se houve um defeito no sistema RunFlat, equipamento que substitui o pneu em caso de problema. Um pedaço dessa estrutura foi encontrado na rua, próximo do local onde os pneus estouraram. Mas, segundo o metroviário, agora se avalia se o desgaste estaria relacionado com o fato de que a linha do monotrilho é muito sinuosa, com muitas subidas e descidas na região próxima da estação São Mateus, o que estaria acelerando o desgaste dos pneus. Com a expansão da linha no último ano, a carga sobre os trens aumentou muito e pode ter levado ao problema.

Reações

Os deputados estaduais Paulo Fiorillo e José Américo, também protocolaram um pedido de abertura de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), na Assembleia Legislativa, para apurar os riscos à população e as responsabilidades pelos constantes problemas no monotrilho, construído pelo Consórcio Expresso Monotrilho Leste (CEML), que inclui as construtoras Queiroz Galvão e OAS, além da Bombardier.

No dia 6, o Tribunal de Contas do Estado (TCE) determinou uma fiscalização na Linha 15-Prata. O conselheiro Renato Martins Costa defendeu que a situação “aponta para eventual deficiência na manutenção dos trens ou na reposição das peças necessárias”. O conselheiro quer saber qual a real condição do Monotrilho, o prejuízo à população e que solução que está sendo proposta.

O governo Doria anunciou que vai processar o consórcio e avalia um prejuízo de R$ 1 milhão por dia com a paralisação do monotrilho do Metrô. “O governo do estado tem estudado todas as possibilidades das punições que ocorrerão. Diariamente, nós temos um prejuízo na ordem de R$ 1 milhão, que será sim cobrado do consórcio e da Bombardier, assim que for declarada a responsabilidade desse problema e eles vão ser acionados sim na Justiça para que possam ressarcir todos os prejuízos”, disse o secretário de Transportes Metropolitanos, Alexandre Baldy.