São Paulo

Sem elucidar problemas, monotrilho volta a operar no próximo dia 23

Governo Doria anunciou reabertura parcial da operação da linha 15-Prata. Funcionamento total está previso para 14 de abril

reprodução/TVT
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Monotrilho do Metrô vai ser reaberto no dia 23 de março, mas sem ter sido explicado o problema que levou ao estouro de pneus

São Paulo – O secretário de Estado dos Transportes Metropolitanos, Alexandre Baldy, responsável pelo Metrô paulista, anunciou a reabertura parcial do monotrilho da linha 15-Prata (Vila Prudente/São Mateus) para a próxima segunda-feira (23). Apesar disso, ele não informou se os problemas que levaram ao estouro de pneus da composição M20, em 27 de fevereiro, foram solucionados. O sistema está fechado desde 29 de fevereiro. Para o Sindicato dos Metroviários de São Paulo, a abertura sem transparência traz muitas preocupações quanto à segurança dos usuários do trecho.

“Queremos que o monotrilho seja reaberto o quanto antes, porque entendemos o quanto a população é prejudicada por uma linha de Metrô fechada. Mas queremos que a reabertura seja feita com segurança. Até agora não temos informações das causas do estouro de pneu. Muito menos se o problema foi plenamente resolvido. Os metroviários continuam sendo impedidos de participar do processo de inspeção dos trens, não há nenhuma transparência no processo”, explicou a coordenadora do sindicato Camila Lisboa.

Inicialmente, o Metrô descartou que um problema na via tivesse levado ao estouro dos pneus. Foi aventado se houve um defeito no sistema RunFlat, equipamento que substitui o pneu em caso de problema. Um pedaço dessa estrutura foi encontrado na rua, próximo do local onde os pneus estouraram. Mas, segundo um operador da linha que pediu para não ser identificado, a fabricante de trens Bombardier avalia se o desgaste estaria relacionado com o fato de que a linha do monotrilho é muito sinuosa, com muitas subidas e descidas na região próxima da estação São Mateus, o que estaria acelerando o desgaste dos pneus, juntamente com o aumento da demanda nos últimos dois anos.

O metroviário também disse que a companhia não está trabalhando com transparência. Somente os técnicos da Bombardier podem participar da inspeção dos trens. Os trabalhadores do Metrô são impedidos de se aproximar da área. Para chegar ao local é preciso solicitar uma autorização do Centro de Controle Operacional (CCO) e um supervisor acompanha o profissional. Também é impedido uso de celular ou qualquer outra tecnologia que possa registrar o trabalho que está sendo realizado.

O presidente do Metrô, Silvani Pereira, criou um grupo de trabalho com os gerentes dos setores de manutenção, projetos, empreendimento e operação para, por 30 dias, acompanhar, avaliar e registrar os trabalhos desenvolvidos pela fabricante de trens Bombardier, na tentativa de descobrir o que provocou o estouro de cinco pneus do monotrilho. O grupo deverá apresentar um relatório com as conclusões da investigação sobre o problema até 5 de abril.

Inquérito do monotrilho

O promotor de Justiça Silvio Antonio Marques determinou a abertura de um inquérito para apurar os problemas no monotrilho do Metrô. Silvani Pereira, foi intimado a dar explicações em oitiva na promotoria na próxima quarta-feira (18). Também terão de prestar informações a Bombardier, que produziu o monotrilho, o Consórcio Expresso Monotrilho Leste (CEML), que inclui as construtoras Queiroz Galvão e OAS, a Secretaria de Estado dos Transportes Metropolitanos e o Metrô. O inquérito foi aberto a partir de representação dos deputados estaduais Paulo Fiorillo e José Américo, ambos do PT.

O promotor relacionou vários problemas apresentados pelo monotrilho desde a sua abertura em 2016. Marques mencionou as constantes falhas de sinalização que provocam redução de velocidade repetidamente e o choque entre as composições M22 e M23 na estação Jardim Planalto, em 29 de janeiro do ano passado. Lembrou também que, em outubro de 2016, um trem deixou a plataforma com todas as portas abertas, colocando em risco a vida dos passageiros, já que o monotrilho circula a uma altura média de 15 metros do chão. Pouco antes, duas mulheres quase ficaram presas entre as portas da plataforma e da composição, ao tentar ingressar no vagão quando as entradas reabriram.

Marques quer que o Metrô apresente informações a respeito das irregularidades, identifique os responsáveis pelos diversos problemas ocorridos na Linha 15-Prata, especialmente as paralisações no funcionamento a partir de fevereiro. E explique quais medidas foram tomadas para apurar as responsabilidades, aplicar eventuais penalidades e retomar a normalidade na operação do monotrilho. O promotor também quer saber o prejuízo total sofrido pelo estado por conta da substituição dos trens do monotrilho por ônibus do Plano de Atendimento entre Empresas de Transporte em Situação de Emergência (Paese).

“O Ministério Público assume um papel importante nesse momento que a população sofre com a falta de um transporte público importante como é o monotrilho da zona leste. Estamos há 12 dias com trens parados e ninguém oferece respostas. É muito significativa essa abertura de inquérito, porque vamos poder colocar luz sobre o problema e entender o que está acontecendo”, afirmou o deputado Fiorillo.

No dia 6, o Tribunal de Contas do Estado (TCE) determinou uma fiscalização na Linha 15-Prata. O conselheiro Renato Martins Costa defendeu que a situação “aponta para eventual deficiência na manutenção dos trens ou na reposição das peças necessárias”. O conselheiro quer saber qual a real condição do monotrilho, o prejuízo à população e que solução que está sendo proposta.

O governo de João Doria (PSDB) anunciou que vai processar o consórcio e avalia prejuízo de R$ 1 milhão por dia com a paralisação da linha 15-Prata do Metrô. “O governo do estado tem estudado todas as possibilidades das punições que ocorrerão. Diariamente, nós temos um prejuízo na ordem de R$ 1 milhão, que será sim cobrado do consórcio e da Bombardier, assim que for declarada a responsabilidade desse problema e eles vão ser acionados sim na Justiça para que possam ressarcir todos os prejuízos”, disse Baldy.