São Paulo

Monotrilho do Metrô vai ficar mais dez dias sem funcionar

Governo Doria e Bombardier ainda não sabem o que levou ao estouro de pneus de uma composição do monotrilho na semana passada

Claudio Pepper/ Metrô
Claudio Pepper/ Metrô
Passada uma semana do estouro de pneus do monotrilho, governo Doria e Bombardier ainda não sabem o que ocorreu

São Paulo – Os moradores da zona leste da capital paulista que dependem do monotrilho da Linha 15-Prata (Vila Prudente/São Mateus) do Metrô vão ficar, pelo menos, mais 10 dias sem poder utilizar o sistema. Segundo informações de um funcionário da Linha 15, que pediu para não ser identificado, até agora não foi descoberto o motivo que fez os pneus da composição M20 estourarem na manhã do dia 27 de fevereiro. O trecho está fechado há uma semana e técnicos da fabricante de trens Bombardier estão verificando os pneus de todas as 23 composições que operam na linha. Depois disso, o sistema deve operar com restrições por tempo indeterminado.

O metroviário também explicou que a companhia não está trabalhando com transparência. Somente os técnicos da Bombardier podem participar da inspeção dos trens. Os trabalhadores do Metrô são impedidos de se aproximar da área. Para se aproximar do local é preciso solicitar uma autorização do Centro de Controle Operacional (CCO) e um supervisor acompanha o profissional até o local, onde também é impedido uso de celular ou qualquer outra tecnologia que possa registrar o trabalho que está sendo realizado.

Na terça-feira (3), o Sindicato dos Metroviários de São Paulo cobrou transparência do governo de João Doria (PSDB) sobre o motivo do problema e os riscos para a população. “No primeiro momento, o governo de São Paulo mentiu sobre o motivo do fechamento da linha. Precisou a situação ficar muito grave para assumir o problema, porque ia ter a volta efetiva das aulas após o retorno do carnaval. O que mostra que o problema é grave”, afirmou a coordenadora do Sindicato dos Metroviários Camila Lisboa. Segundo o Metrô, pneus de outras composições apresentaram desgaste prematuro. Os pneus são um projeto específico da Bombardier e devem durar aproximadamente 100 mil quilômetros.

Inicialmente, o Metrô descartou que um problema na via tivesse levado ao estouro dos pneus. Foi aventado se houve um defeito no sistema RunFlat, equipamento que substitui o pneu em caso de problema. Um pedaço dessa estrutura foi encontrado na rua, próximo do local onde os pneus estouraram. Mas, segundo o metroviário, agora se avalia se o desgaste estaria relacionado com o fato de que a linha do monotrilho é muito sinuosa, com muitas subidas e descidas na região próxima da estação São Mateus, o que estaria acelerando o desgaste dos pneus. Com a expansão da linha no último ano, a carga sobre os trens aumentou muito e pode ter levado ao problema.

Reações

Os deputados estaduais Paulo Fiorillo e José Américo, ambos do PT, protocolaram na quinta-feira (4) um pedido de abertura de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), na Assembleia Legislativa paulista (Alesp), para apurar os riscos à população e as responsabilidades pelos constantes problemas no monotrilho, construído pelo Consórcio Expresso Monotrilho Leste (CEML), que inclui as construtoras Queiroz Galvão e OAS, além da fabricante canadense de trens Bombardier. Os parlamentares também fizeram uma representação no Ministério Público Estadual.

Ontem (6), o Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCE) determinou uma fiscalização na Linha 15-Prata. O conselheiro Renato Martins Costa defendeu que a situação “aponta para eventual deficiência na manutenção dos trens ou na reposição das peças necessárias”. O conselheiro quer saber qual a real condição do Monotrilho, o prejuízo à população e que solução que está sendo proposta.

O governo Doria anunciou que vai processar o consórcio e avalia um prejuízo de R$ 1 milhão por dia com a paralisação do monotrilho do Metrô. “O governo do estado tem estudado todas as possibilidades das punições que ocorrerão. Diariamente, nós temos um prejuízo na ordem de R$ 1 milhão, que será sim cobrado do consórcio e da Bombardier, assim que for declarada a responsabilidade desse problema e eles vão ser acionados sim na Justiça para que possam ressarcir todos os prejuízos”, disse o secretário de Transportes Metropolitanos Alexandre Baldy.

Problemas no monotrilho

O monotrilho da Linha 15-Prata teve um atraso de oito anos na conclusão do trecho até São Mateus. E ficou quase R$ 5 bilhões mais caro que o previsto. Hoje, acumula falhas desde o início da operação, muitas delas graves. Falhas de sinalização são frequentes e provocam redução de velocidade repetidamente. A trepidação constante também é considerada um problema grave, que pode ter levado a soltar parafusos e peças no ano passado.

Em 29 de janeiro do ano passado, as composições M22 e M23 se chocaram na estação Jardim Planalto e o acidente não foi pior porque o operador percebeu a falha no sistema automático e acionou o freio de emergência. À época, foram constatados problemas no CBTC, sistema adquirido por um R$ 1 bilhão pelo governo paulista, mas que ainda apresenta muitas falhas e inconsistências.

Em outubro de 2016, um trem da Linha 15-Prata deixou a plataforma com todas as portas abertas, colocando em risco a vida dos passageiros, já que o monotrilho circula a uma altura média de 15 metros do chão, sobre pilastras. Pouco antes, duas mulheres quase ficaram presas entre as portas da plataforma e da composição, ao tentarem ingressar no vagão quando as entradas reabriram.