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Sem explicar acidente, Doria culpa coronavírus e mantém monotrilho fechado

Bombardier ainda não explicou estouro de pneus e governo Doria contratou IPT para avaliar situação do monotrilho, que devia ter sido reaberto hoje

Claudio Pepper
Claudio Pepper
Governo Doria havia prometido reabertura do monotrilho para esta segunda. Agora usa coronavírus para justificar continuidade do fechamento

São Paulo – O monotrilho da linha 15-Prata (Vila Prudente/São Mateus) do Metrô paulista amanheceu fechado nesta segunda-feira(23), contrariando anúncio do secretário estadual dos Transportes Metropolitanos, Alexandre Baldy, que na semana passada anunciou a reabertura parcial do trecho. A justificativa do governo de João Doria (PSDB) é que, com a pandemia de coronavírus, houve queda no número de passageiros e não há necessidade de reabrir o trecho.

Os usuários do trecho que ainda necessitam deslocar-se vão continuar sendo atendidos pelo Plano de Atendimento entre Empresas de Transporte em Situação de Emergência (Paese), pelo menos, até o próximo dia 28. No entanto, a frota de veículos foi reduzida de 60 para 40 ônibus por dia, contrariando as orientações de manter o sistema de transporte em pleno funcionamento para evitar aglomerações.

Doria ainda não esclareceu se o problema que levou ao estouro de pneus na composição M22, no dia 27 de fevereiro, foi detectado e solucionado pela fabricante dos trens, a Bombardier.

Inicialmente, o Metrô descartou que um problema na via tivesse levado ao estouro dos pneus. Foi aventado se houve um defeito no sistema RunFlat, equipamento que substitui o pneu em caso de problema. Um pedaço dessa estrutura foi encontrado na rua, próximo do local onde os pneus estouraram.

Mas, segundo um operador da linha que pediu para não ser identificado, a fabricante de trens Bombardier avalia se o desgaste estaria relacionado com o fato de que a linha do monotrilho é muito sinuosa, com muitas subidas e descidas na região próxima da estação São Mateus, o que estaria acelerando o desgaste dos pneus, juntamente com o aumento da demanda nos últimos dois anos.

O metroviário também disse que a companhia não está trabalhando com transparência. Somente os técnicos da Bombardier podem participar da inspeção dos trens. Os trabalhadores do Metrô são impedidos de se aproximar da área. Para chegar ao local é preciso solicitar uma autorização do Centro de Controle Operacional (CCO) e um supervisor acompanha o profissional. Também é impedido uso de celular ou qualquer outra tecnologia que possa registrar o trabalho que está sendo realizado.

O presidente do Metrô, Silvani Pereira, criou um grupo de trabalho com os gerentes dos setores de manutenção, projetos, empreendimento e operação para, por 30 dias, acompanhar, avaliar e registrar os trabalhos desenvolvidos pela fabricante de trens Bombardier, na tentativa de descobrir o que provocou o estouro de cinco pneus do monotrilho. O grupo deverá apresentar um relatório com as conclusões da investigação sobre o problema até 5 de abril.

O Metrô também contratou o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) para fazer uma investigação paralela das causas de rompimento dos pneus do monotrilho. A Bombardier devia ter entregue o laudo das inspeções realizadas em todos os trens no dia 11, mas até agora não há previsão de quando isso vai ocorrer.

Inquérito do monotrilho

O promotor de Justiça Silvio Antonio Marques determinou a abertura de um inquérito para apurar os problemas no monotrilho do Metrô. Silvani Pereira, foi intimado a dar explicações em oitiva na promotoria. Mas, por conta da epidemia de coronavírus, o depoimento foi adiado. Também terão de prestar informações a Bombardier, que produziu o monotrilho, o Consórcio Expresso Monotrilho Leste (CEML), que inclui as construtoras Queiroz Galvão e OAS, a Secretaria de Estado dos Transportes Metropolitanos e o Metrô. O inquérito foi aberto a partir de representação dos deputados estaduais Paulo Fiorillo e José Américo, ambos do PT.

O promotor relacionou vários problemas apresentados pelo monotrilho desde a sua abertura em 2016. Marques mencionou as constantes falhas de sinalização que provocam redução de velocidade repetidamente e o choque entre as composições M22 e M23 na estação Jardim Planalto, em 29 de janeiro do ano passado. Lembrou também que, em outubro de 2016, um trem deixou a plataforma com todas as portas abertas, colocando em risco a vida dos passageiros, já que o monotrilho circula a uma altura média de 15 metros do chão.

Marques quer que o Metrô apresente informações a respeito das irregularidades, identifique os responsáveis pelos diversos problemas ocorridos na Linha 15-Prata, especialmente as paralisações no funcionamento a partir de fevereiro. E explique quais medidas foram tomadas para apurar as responsabilidades, aplicar eventuais penalidades e retomar a normalidade na operação do monotrilho. O promotor também quer saber o prejuízo total sofrido pelo estado por conta da substituição dos trens do monotrilho por ônibus do Paese.

O Tribunal de Contas do Estado (TCE) determinou fiscalização na Linha 15-Prata. O conselheiro Renato Martins Costa defendeu que a situação “aponta para eventual deficiência na manutenção dos trens ou na reposição das peças necessárias”. O conselheiro quer saber qual a real condição do monotrilho, o prejuízo à população e que solução que está sendo proposta.

O governo Doria anunciou que vai processar o consórcio e avalia prejuízo de R$ 1 milhão por dia com a paralisação da linha 15-Prata do Metrô. “O governo do estado tem estudado todas as possibilidades das punições que ocorrerão. Diariamente, nós temos um prejuízo na ordem de R$ 1 milhão, que será sim cobrado do consórcio e da Bombardier, assim que for declarada a responsabilidade desse problema e eles vão ser acionados sim na Justiça para que possam ressarcir todos os prejuízos”, disse Baldy.