Descaso tucano

Problemas na linha 15-Prata são recorrentes e falta transparência ao governo, dizem metroviários

Sem previsão para retomar a operação do monotrilho, o governo Doria e a fabricante de trens Bombardier ainda não sabem o que provocou estouro de pneus

Governo do Estado de São Paulo
Governo do Estado de São Paulo
Linha 15-Prata tem histórico de problemas desde o início da operação

São Paulo – Os metroviários de São Paulo querem que o governo de João Doria (PSDB) seja transparente e forneça informações à população sobre o que provocou o estouro de pneus do trem M20 da linha 15-Prata (Vila Prudente/São Mateus). O trecho está fechado há quatro dias e, inicialmente, o governo paulista informou que o fechamento era por conta de testes do sistema de controle de trens.

“No primeiro momento, o governo de São Paulo mentiu sobre o motivo do fechamento da linha. Precisou a situação ficar muito grave para assumir o problema, porque ia ter a volta efetiva das aulas após o retorno do carnaval. O que mostra que o problema é grave”, afirmou a coordenadora do Sindicato dos Metroviários Camila Lisboa.

Desde quinta-feira (27), a linha 15-Prata teve uma sequência de falhas, entre as quais um estouro de um pneu da composição M20, na estação Jardim Planalto, às 6h40. O impacto foi tão forte que abriu os compartimentos internos do vagão. Segundo um trabalhador que pediu para não ser identificado, foi a própria Bombardier, fabricante dos trens, que solicitou o fechamento do monotrilho para avaliar as consequências dos incidentes. Segundo o operador, todos os trens foram recolhidos ao final da operação de sexta-feira, para inspeção dos pneus.

“Esse sistema foi uma aventura do governo estadual, muito mal pensada e com interesses inconfessáveis. Se existem outros sistemas como esse no mundo, eles não se comparam com o de São Paulo. Nem em demanda, nem em condições de funcionamento. Defendemos desde sempre que devia ser uma linha de metrô até São Mateus”, afirmou o também coordenador Wagner Fajardo.

A Bombardier enviou técnicos para fazer a inspeção nos trens. O próprio presidente do Metrô, Silvani Alves Pereira, esteve no local acompanhando o procedimento. Mas até agora não há previsão de quando a linha vai voltar a funcionar. Será preciso analisar todos os 23 trens da linha, que tem oito rodas em cada vagão. A São Paulo Transporte (SPTrans) está mobilizada para manter a oferta de ônibus de emergência no local até o final desta semana.

Os metroviários criticam ainda o sistema de contratação da Bombardier, que manteve todo o controle da tecnologia nas mãos da empresa, limitando a ação do Metrô. “A Bombardier detém todo o conhecimento sobre a tecnologia e o funcionamento dos trens. O governo paulista comprou somente o equipamento. O Metrô não pode nem investigar o que está acontecendo na Linha 15-Prata”, disse Fajardo.

Foi descartado um problema no pavimento em que correm os trens. É avaliado se houve defeito no sistema RunFlat, um equipamento que substitui o pneu em caso de problema. Um pedaço dessa estrutura foi encontrado na rua, próximo do local onde os pneus estouraram. Os pneus são um projeto específico da Bombardier, encomendado à fabricante de pneus Michelin. Eles devem durar aproximadamente 100 mil quilômetros.

Histórico de falhas

O monotrilho da Linha 15-Prata acumula falhas desde o início da operação, muitas delas graves. Falha de sinalização são constantes e provocam redução de velocidade repetidamente. A trepidação constante também é considerado um problema grave, que pode ter levado a soltar parafusos e peças no ano passado.

Em 29 de janeiro do ano passado, as composições M22 e M23 se chocaram na estação Jardim Planalto e o acidente não foi pior porque operador percebeu a falha no sistema automático e acionou o freio de emergência. À época, foram constatados problemas no CBTC, sistema adquirido por um R$ 1 bilhão pelo governo paulista, mas que ainda apresenta muitas falhas e inconsistências.

Em outubro de 2016, um trem da Linha 15-Prata deixou a plataforma com todas as portas abertas, colocando em risco a vida dos passageiros, já que o monotrilho circula a uma altura média de 15 metros, sobre pilastras. Pouco antes, duas mulheres quase ficaram presas entre as portas da plataforma e da composição, ao tentar ingressar no vagão quando as entradas reabriram.