tragédia anunciada

‘Temos que pensar em outras formas de combater enchente em São Paulo’, diz geógrafo

Wagner Ribeiro contesta prefeito da capital paulista por investir valor abaixo do esperado e em "modelo já superado"

Marcelo Camargo/EBC
Marcelo Camargo/EBC
Dos R$ 300 milhões do orçamento paulistano destinado ao combate de alagamentos e enchentes, gestão Covas aplicou R$ 50 milhões – cerca de 17% da verba

São Paulo – Para o professor Wagner Ribeiro, do Departamento de Geografia e do programa de pós-graduação em Ciência Ambiental da Universidade de São Paulo (USP), as imagens de destruição causadas pelas chuvas que caíram sobre a cidade de São Paulo ontem (10) “são o resultado da inação (do poder público) em reter água nas cabeceiras dos rios”. “Nós temos que pensar em outras formas de combater enchente em São Paulo”, advertiu, em entrevista nesta terça-feira (11) à jornalista Marilu Cabañas, da Rádio Brasil Atual.

Em participação anterior no Jornal Brasil Atual, Wagner Ribeiro, ao comentar sobre estragos recentemente provocados pelas chuvas em Belo Horizonte, alertou que a situação de São Paulo não era muito diferente, “porque estamos assistindo a esse desmonte de todo o aparato de gestão”. De acordo com o geógrafo, é preciso “renaturalizar” os rios da cidade, deixando com que eles cumpram suas funções naturais, além de aumentar a permeabilização dos corpos d’água e do solo e implementar ações para reter as águas nas cabeceiras. No entanto, dos R$ 4 milhões orçados para investimentos no sistema de drenagem da cidade, nenhum centavo foi gasto com o serviço.

“As marginais, elas são parte do leito natural do rio, são zonas de expansão naturais do rio. Então não há nenhuma surpresa de essa água se espraiar. Nossa surpresa é, na verdade, não ter ações para evitar os prejuízos lamentáveis que a gente assiste frequentemente, todos os anos, a partir dessa má gestão de toda a drenagem urbana que nós temos na cidade de São Paulo”, ressalta.

Mudanças climáticas 

Segundo o Centro de Gerenciamento de Emergências (GCE), entre a noite de domingo e a tarde de segunda-feira – período de pouco mais de 12 horas –, choveu metade do esperado para todo o mês de fevereiro. Ribeiro ressalta que esse volume, em parte, é parte dos eventos extremos que a sociedade já acompanha em decorrência das mudanças climáticas.

Ainda segundo o professor da USP, uma confluência de chuvas provenientes da Amazônia, com a presença de uma frente fria também fez aumentar a quantidade e a intensidade da precipitação. “Ontem nós tivemos um volume de água extraordinário, batendo recorde dos últimos anos em chuva acumulada no mesmo período. Isso pode acontecer de novo, sem dúvida e nós não estamos preparados para enfrentar essa situação.”

O geógrafo acrescenta que os prejuízos são enormes, principalmente para a população de baixa renda, a mais prejudicada. “Quem sofre mais é quem está na periferia, que não consegue chegar ao seu local de trabalho, que vive de diária, do seu dia a dia, ganhando o pão de hoje para poder comer amanhã, esse é o maior prejudicado”, destaca.

Ouça a entrevista da Rádio Brasil Atual

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