Ideologia do ódio

Em 2019, Bolsonaro promoveu um ataque contra a imprensa a cada três dias

Foram 116 as investidas do presidente contra profissionais da imprensa. Isso, apenas contabilizando registros oficiais

reprodução/facebook
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Uma estratégia utilizada por Bolsonaro é a de convocar apoiadores durante coletivas para intimidar jornalistas

São Paulo – Após um ano de governo, o presidente Jair Bolsonaro ainda não deixou o palanque eleitoral e escolheu alguns alvos prioritários para destilar seu veneno verbal. Entre os escolhidos, estão agentes de áreas como a cultura, a educação e, sobretudo, profissionais da imprensa. De acordo com levantamento da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), foram quase 10 ataques de Bolsonaro à imprensa por mês, totalizando 116 em um ano.

A cada três dias, Bolsonaro promoveu algum tipo de discurso de ódio contra jornalistas e veículos midiáticos. Esse levantamento leva em conta apenas registros escritos em veículos tidos como oficiais, como as redes sociais do presidente. Na prática, o número pode ser ainda superior. Por exemplo, no dia 20 de dezembro, em uma coletiva, Bolsonaro atacou de forma virulenta jornalistas que o questionavam sobre escândalos envolvendo seu filho, o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ). Na ocasião, ainda fez ataques homofóbicos: “Você tem uma cara de homossexual terrível“, disse a um repórter.

“As declarações do presidente alimentaram a hostilidade contra jornalistas neste ano de 2019. Alguns ministros também passaram a fazer uso dessa tática, e isso incentivou apoiadores do governo a perseguir os jornalistas nos meios digitais, com mensagens ameaçadoras e exposição de dados privados. É uma tentativa desesperada de enfraquecer o exercício do jornalismo, e de desviar o foco das denúncias contra o governo que vêm se somando desde o início de 2019”, afirma Márcio Garoni, diretor da Fenaj.

Além de membros do governo diretamente, milícias digitais ligadas ao bolsonarismo amplificam os ataques direcionados  a inimigos selecionados a dedo por membros de uma “elite” que comanda tal política. O uso de estratégias milicianas nas redes sociais para difamar e espalhar mentiras ficou evidenciada pela CPMI das Fake News, inclusive por antigos aliados que chegaram a participar da horda do ódio na internet.

Para a presidenta da Fenaj, Maria José Braga, a postura da gangue bolsonarista, incluindo o próprio político, é uma “afronta à democracia”. “Nossa principal preocupação é com a democracia e as instituições democráticas, entre elas as que convencionamos chamar de imprensa. Também nos preocupa a questão objetiva da segurança dos Jornalistas. Quando um chefe de Estado ataca sistematicamente profissionais e veículos de imprensa, incentiva que seus apoiadores façam o mesmo, inclusive com intimidação, ameaças e até agressões. Bolsonaro potencializa a agressividade contra jornalistas, e com isso afronta os valores democráticos”, diz.

A Fenaj ainda argumenta, em nota, que os ataques de Bolsonaro contra a imprensa visam desviar a atenção para escândalos envolvendo sua família, como relações de parentes e amigos com milicianos no Rio de Janeiro.

Outra estratégia utilizada por Bolsonaro é convocar apoiadores durante coletivas para intimidar jornalistas. Atitude também rechaçada por entidades representativas dos repórteres. “A Fenaj e o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal ressaltaram que os ataques tentavam desviar das denúncias que ligam sua família e amigos a atividades criminosas. Federação e sindicato também apelam às redações que reavaliem a decisão de deslocar repórteres para cobrir entrada e saída do Palácio da Alvorada, onde os jornalistas dividem espaço com apoiadores do presidente, que constantemente ameaçam os profissionais.”

Acesse aqui a linha do tempo elaborada pela Fenaj com os ataques de Bolsonaro contra profissionais da imprensa.

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