Bolsonaro desmonta

Sem diálogo, Funai impõe diretores militares e proíbe viagens a Terras Indígenas em demarcação

"Ato de covardia (do governo Bolsonaro) para poder servir ao capital", diz indigenista. Unidade da Funai em Itanhaém, na Baixada Santista, foi ocupada em protesto

Arquivo EBC
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Governo Bolsonaro tem ainda substituído coordenadorias-regionais por militares, sem diálogo com os indígenas

São Paulo – Apenas na Baixada Santista, no litoral de São Paulo, aos menos 600 indígenas ficarão sem qualquer atendimento ou proteção da Fundação Nacional do Índio (Funai). Isso porque, conforme nova diretriz da órgão, vazada em documento interno no final de novembro, só serão autorizadas viagens de servidores às Terras Indígenas (TIs) homologadas, no caso do processo de demarcação já concluído. De acordo com Instituto Socioambiental, a decisão prejudica ao todo 236 TIs em processo de demarcação, que terão atendimento cancelado.

Em protesto, indígenas de aldeias da Baixada Santista e Vale do Ribeira, no litoral sul paulista, ocuparam a base da Funai em Itanhaém. Eles residem em áreas ainda não homologadas e serão, portanto, diretamente afetados pela medida do governo de Jair Bolsonaro. “Queremos uma resposta, dialogar, algumas lideranças estão em Brasília pedindo respeito com o ser humano (…) A esperança é que alguma autoridade tome providência com o Estatuto do Índio, mas não só, como ‘estatuto do ser humano’ também”, afirma o indígena Guarani Dida Karái, que participa do protesto, às jornalistas Marilu Cabañas e Nahama Nunes, da Rádio Brasil Atual.

Os povos originários que desde o dia 4 ocupam a sede da Funai em Itanhaém, também protestam contra a exoneração de Cristiano Hutter da direção da Coordenação Regional do Litoral Sudeste, substituído pelo tenente reformado Roberto Cortez de Sousa. “É um absurdo, o que militar entende do indigenismo? Absolutamente nada. Mas o governo federal me parece que não está preocupado com isso, o objetivo é o desmonte da política indigenista”, afirma o integrante do Fórum de Economia Solidária da Baixada Santista Newton Rodrigues, que presta apoio ao protesto dos indígenas da região. “Sabemos que há um processo de verdadeiro genocídio nesse país, provocado por milicianos associados principalmente à mineradores, representantes do agronegócio, madeireiros”, destaca.

Sem diálogo

Além de impedir visitas da Funai às TIs em processo de demarcação, o governo Bolsonaro intenciona ainda trocar o comando de 39 coordenadorias-regionais. Pelo menos seis diretores foram substituídos, também por militares da reserva, e sem qualquer diálogo com as comunidades tradicionais, contrariando o Estatuto do Índio. Tradicionalmente, os cargos de coordenadores, responsáveis pelas necessidades administrativas às demandas cotidianas, sempre foram livres de ingerência política.

Com a substituição de Hutter, reconhecido pelo seu conhecimento da causa e da realidade indígenas, pelo militar Souza, não resta dúvidas para Dida Karái que os povos da região estarão em risco. No sábado (7), dois indígenas da etnia Guajajara foram assassinados no Maranhão. Foram três mortes em menos de dois meses naquele estado – o líder e guardião da floresta Paulo Firmino Guajajara foi morto a tiros em 1º de novembro. Há meses a etnia denuncia as ameaças de morte e as invasões de seus territórios, mas mesmo assim foram ignorados pelo governo Bolsonaro.

“Com a visita do Cristiano (Hutter) e do pessoal já estava um pouco difícil, imagina agora que não vai mais ninguém… a gente nem vai mais ser visto como indígena, porque não terá ninguém olhando, essa é a nossa preocupação para futuramente”, lamenta Dida Karái.  Segundo Rodrigues “querem deixar o indígena de frente para o confronto. É um ato de covardia (do governo Bolsonaro) para servir ao capital. Estão de olho nas riquezas das florestas. É  por isso que eles (indígenas) são o alvo principal. Eles covardemente escolheram os indígenas para atacar, porque os indígenas são os protetores do meio ambiente”, avalia o membro do Fórum de Economia Solidária.

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