Arbitrariedade

‘Podem tirar computadores, documentos, mas saúde e alegria não vão tirar da gente’

Diretor da ONG Saúde e Alegria, alvo de operação policial no Pará, diz que país vive situação "policialesca" e cobrou apuração "para que a verdade tenha à tona o mais rápido possível"

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Policiais retiram equipamentos na sede da ONG em Santarém: 'Até hoje não sabemos do que estamos sendo acusados'

São Paulo – A ainda mal explicada operação policial no escritório do Projeto Saúde e Alegria (PSA), em Santarém (PA), uma semana atrás, não vai inibir suas atividades, diz o diretor da organização Caetano Scannavino, que participou ontem (2) à noite de evento em São Paulo em defesa da democracia. “Podem tirar computadores, documentos, mas saúde e alegria não vão tirar da gente”, afirmou, lembrando que todo o material continua apreendido, “sem nenhuma acusação formal”.

Voluntários chegaram a ser detidos pela Operação Fogo do Sairé, que investiga os incêndios na região de Alter do Chão, em setembro. “Parece que faz anos que foi declarada uma guerra. A regra dessa guerra é meio injusta, eles podem usar armas não convencionais”, afirma Caetano.

“Não tinha um pedido judicial, mas tinha um mandado genérico. Até hoje não sabemos do que estamos sendo acusados.” O PSA começou a atuar em 1987, inicialmente na zona rural de Santarém.  Atualmente, segundo informa, atende aproximadamente 30 mil pessoas, incluindo outros municípios paraenses.

Segundo ele, os “inimigos” ficaram surpresos com a solidariedade recebida, “da esquerda, da direita, de empresários”. Caetano identifica uma “inversão de valores” no Brasil atual: “O cara que comete o crime ambiental é ‘cidadão de bem’, e quem denuncia o crime ambiental é preso”.

Ao lado de Caetano, a diretora de Engajamento do WWF-Brasil – organização criada em 1996 que mantém dezenas de projetos ambientais na Amazônia e em outras regiões –, Gabriela Yamaguchi, defendeu fortalecimento dos laços entre aqueles que defendem o Estado de direito e acreditam em uma democracia “em que ninguém vai ser deixado para trás”, mantendo parcerias “em todos os rincões” do país. “Não vamos deixar de ter coragem”, afirmou.

“É uma vergonha o que passa a população indígena, a população negra, a população pobre deste país”, disse ainda Caetano, no evento promovido pela plataforma Pacto pela Democracia, que reuniu dezenas de entidades no Teatro Fecap, na Liberdade, região central de São Paulo. “Que se faça justiça neste país,  não só para brancos de classe média’, acrescentou o diretor da ONG, para quem o Brasil vive uma situação “policialesca”.

Ele contou que teve de sair de casa e cogita pedir proteção, inclusive para sua família. “Cobrem apuração, para que a verdade venha à tona o mais rápido possível. Cobrem segurança”, pediu.