Solidariedade

Movimentos fazem campanha de arrecadação para Natal das famílias da Cooperativa Granja Julieta

Financiamento coletivo tem como objetivo atender 61 crianças, filhas, em sua maioria, de mulheres catadoras. Doações serão revertidas para a festa de fim de ano e montagem de cestas básicas

Arquivo Cooperativa/MNU
Arquivo Cooperativa/MNU
Cofundador do MNU, Milton Barbosa, é o papai noel na festa dos filhos dos catadores da cooperativa Granja Julieta

São Paulo – O Movimento Negro Unificado (MNU) e a Marcha das Mulheres Negras de São Paulo lançaram mais uma edição da campanha de arrecadação de fundos para o Natal das filhas e filhos de catadores da Cooperativa Granja Julieta, em São Paulo, uma iniciativa que já dura há uma década. Neste ano, a organização calcula que pelo menos 61 crianças poderão ser beneficiadas com as doações, que serão revertidas para a realização de uma festa natalina e montagem de cestas básicas.

A proposta é que cada criança seja apadrinhada por um voluntário para a aquisição de roupas, calçados e brinquedos, e o dinheiro arrecadado seja investido ainda no aluguel de brinquedos infláveis e compra de bebidas, comidas e alimentos para a cesta básica e a festa de Natal, que conta ainda com a presença do cofundador do MNU, Milton Barbosa, como Papai Noel. As doações podem ser depositadas na Caixa Econômica Federal, conta 9475-6, agência 2920, operação 013.

Criada em 1996, a Granja Julieta é conhecida principalmente pelo seu sentido social. Além de empregar os catadores, principais responsáveis pelo trabalho da reciclagem, é ainda um espaço de acolhimento e de oportunidade de trabalho e renda para egressos, pessoas em tratamento contra o uso problemático de substâncias psicoativas e em situação de rua. Além de ter seu núcleo de trabalho formado principalmente por mulheres negras.

Arquivo Cooperativa/MNU

“Só conseguimos fazer a festa porque contamos com a ajuda de muitas pessoas durante estes 10 anos”, destaca a militante do MNU e organizadora da campanha, Regina Lúcia dos Santos

O nome do empreendimento faz referência ao antigo endereço da cooperativa, área nobre no distrito de Santo Amaro, na zona sul. Mas que depois de dois incêndios foi realocado, em 2012, para o bairro do Socorro, na mesma região. Desde então, os catadores atribuem os incêndios a causas criminosas. De acordo com eles, o local era malvisto por estar em área nobre e ser uma barreira para interesses imobiliários.

Na época da mudança, os trabalhadores da cooperativa chegaram a denunciar à RBA que o novo endereço, concedido pela prefeitura, não atendia aos parâmetros de armazenamento de resíduos recebidos para triagem e nem continha os equipamentos necessários. O refeitório e os banheiros também eram em número insuficiente. Sete anos depois, “a situação não é muito diferente”, descreve a educadora e militante do MNU Regina Lúcia dos Santos. “Até porque precisaria de uma reforma nos banheiros”, detalha.

“Mas, por exemplo, elas tiveram a esteira consertada faz pouco tempo, o compactador também. Não pela prefeitura, foi um projeto que a gente conseguiu”, explica ela sobre a permanência do empreendimento, que continua resistindo tanto em seu trabalho de reciclagem como no de empoderamento dos catadores com apoio do MNU. “A gente viu a necessidade de fazer um pouco de formação com essas mulheres, de pensar o corpo, a questão do machismo, pensar as duras condições na sociedade. Então, fizemos esse trabalho”, ressalta a educadora. 

A presidenta da cooperativa, Mara Lúcia Sobral, tem atuado, inclusive, na organização de um outro espaço para a separação de resíduos em Santa Bárbara d’Oeste, no interior do estado, onde a maioria dos trabalhadores é de mulheres haitianas. Agora, pelo menos 23 crianças dessa cooperativa também serão beneficiadas com a campanha de Natal.

Regina afirma, no entanto, que as condições de trabalho dos cooperados estão longe do ideal, principalmente na capital, onde o prefeito Bruno Covas (PSDB) fez cortes na entrega de materiais coletados pelo município e criou entraves burocráticos para regularização da documentação de algumas cooperativas. “Está muito difícil mesmo e algumas cooperativas fecharam por conta dessa situação que a prefeitura impôs. Na verdade, a gente acha que há uma tentativa de passar a reciclagem toda para as empresas, porque isso é um nicho de recursos para elas”, avalia Regina. 

Ainda assim, com todas as dificuldades impostas a cooperativa segue seu trabalho na reciclagem e com o apoio dos movimentos sociais. “Só conseguimos fazer a festa porque contamos com a ajuda de muitas pessoas durante estes 10 anos”, destaca a educadora.

Divulgação

Ao todo, 61 crianças serão beneficiadas com as doações

 

 

 

 

 

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