Condições de vida

Mapa da Desigualdade: morador de bairro rico vive até 23 anos mais que na periferia paulistana

Capital paulista segue sendo extremamente desigual e projetos do poder público ainda são insuficientes para alterar o cenário

reprodução
reprodução
Indicador da idade média ao morrer é mais grave do cenário de desigualdade da capital paulista

São Paulo – O Mapa da Desigualdade reafirma a gravidade das diferenças de condições de vida da população paulistana. O levantamento anual realizado pela Rede Nossa São Paulo mostra que quem vive em Moema, região centro-sul da cidade, tem expectativa de chegar aos 80 anos de idade. Já os moradores de Cidade Tiradentes, no extremo leste, têm expectativa de 57 anos. “O dado é tão grave que a diferença de 23 anos entre Moema e Cidade Tiradentes é como se gente andasse um quilômetro em direção à periferia e perdesse um ano de vida. Isso dentro da mesma cidade”, lamentou o coordenador-geral da Rede Nossa São Paulo, Jorge Abrahão.

Segundo o Mapa, os moradores da região mais rica da cidade vivem mais, com expectativa que varia entre 69 e 81 anos. Já os moradores dos extremos leste, norte e sul têm expectativa muito menor: entre 57 e 63 anos. Exceção são os moradores do Jaçanã, na zona norte, e bairros da divisa com a cidade de Guarulhos, que variam entre 63 e 69 anos. A situação, segundo Abrahão, não é dada por estilos de vida dos moradores dessas regiões, mas sim pelo investimento e implementação de políticas públicas pelo governo municipal.

“[O dado] revela uma desigualdade cumulativa. Quando você tem uma idade média ao morrer baixa, é que naquele distrito você está tendo um grau elevado de homicídios juvenis, de mortalidade infantil, tem problemas de saúde, de saneamento básico. Esse dado concentra uma série de dimensões da nossa vida. Por outro lado, se nós somos capazes de ter um bairro em que esse número é elevado, significa que a gente tem o conhecimento instalado na cidade para ter espaços em que você tenha uma idade elevada ao morrer. Isso pode ser replicado, mas depende da coragem dos políticos de enfrentarem isso, concentrando esforços nos lugares mais necessitados”, explicou Abrahão.

Há anos a Rede Nossa São Paulo defende a regionalização do orçamento da cidade, com a ampliação do investimento em regiões que carecem mais de melhorias e infraestrutura. Mas houve poucos avanços. “Nós estamos fazendo esse mapa há quase 10 anos. E a gente está percebendo que a velocidade com que a desigualdade de alguns temas cai é muito baixa em relação ao que deveria ser. E há temas que têm retrocesso. Nós não estamos conseguindo reduzir as desigualdades na cidade de São Paulo. E isso é motivado pelo fato de não termos a desigualdade como tema prioritário na cidade”, disse o coordenador da Rede.

‘Desigualtômetro’

Dos itens avaliados pelo Mapa da Desigualdade, 19 pioraram, dois ficaram iguais e 16 melhoraram em relação a 2018. No entanto, o impacto da melhora é muito inferior ao da piora. Enquanto a disponibilidade de Unidades Básicas de Saúde (UBSs) para cada 10 mil habitantes melhorou 2%, a oferta de livros infanto-juvenis piorou quase 25% com o fechamento de espaços de leitura pelo governo Bruno Covas (PSDB). Isso fez com que o “desigualtômetro” (distância entre o melhor e o pior indicador) aumentasse 9.810% de um ano para outro.

A mortalidade por causas mal definidas cresceu 1.367% e os casos de violência de racismo e injúria racial subiram 22%. O número de distritos com nenhum leito hospitalar segue estável: 18 regiões não possuem atendimento de saúde desse nível. Outros 53 distritos não possuem espaços culturais e 44 não possuem bibliotecas. Onze distritos não têm nenhum espaço esportivo municipal.

Um dado preocupante, e no qual existe pouca desigualdade na capital paulista, é a violência contra a mulher. Esse tipo de crime é distribuído por toda a cidade, pouco importando a classe social das pessoas envolvidas. O Mapa da Desigualdade indicou aumento de 167% nos casos de feminicídio: a média é de 267 casos de violência para 10 mil mulheres residentes na cidade.