iluminismo tecnológico

Extrema-direita utiliza ‘fake news’ para simular respostas simples a problemas complexos

Autor do livro "Dias de Tormenta" explica a influência das redes sociais no engajamento político da população

Isac Nóbrega/PR)
Isac Nóbrega/PR)
Autor lembra que o fascismo estava adormecido, antes das manifestações de 2013, e quem teve sucesso com a ascensão das redes sociais foi o atual presidente Jair Bolsonaro

São Paulo – As redes sociais foram capazes não só de conectar pessoas como também de engajar parte da população politicamente, resultando em milhões de pessoas em manifestações de rua de diversos países, seja na Primavera Árabe, em 2010, ou no Brasil, em 2013. Entretanto, a tecnologia também foi apropriada para alimentar o debate político de maneira desonesta, por meio do fenômeno das fake news. A constatação é do jornalista e especialista em tecnologia Branco di Fátima, no livro Dias de Tormenta: os movimentos de indignação que derrubaram ditaduras, minaram democracias no mundo e levaram a extrema-direita ao poder no Brasil (Geração Editorial).

Di Fátima conta que o gatilho para o livro foi a Primavera Árabe, que derrubou lideranças do Oriente Médio e do norte da África, causando a renúncia do primeiro-ministro da Tunísia Mohamed Ghannouchi, do presidente do Egito Hosni Mubarak e do líder líbio Muammar al-Gaddafi. O autor também explica que a mesma comunicação virtual foi utilizada  em outras mobilizações, como a do movimento zapatista, em 1994, no México.

As Jornadas de Junho de 2013, que levaram milhões de pessoas às ruas do Brasil convocadas por meio de redes sociais, deu espaço para a extrema-direita encontrar um local de representação de suas ideias e formar uma comunidade, explica o autor. Branco di Fátima lembra que o fascismo estava adormecido e quem teve sucesso com essa ascensão foi o atual presidente Jair Bolsonaro.

O livro também explica o fenômeno das fake news, que ajudaram no engajamento da extrema-direita tanto nos Estados Unidos, com a eleição de Donald Trump, quanto no Brasil, na corrida eleitoral de 2018. “As fake news dão respostas simples para problemas complexos. É um mote da extrema direita do mundo, pegando problemas difíceis de resolver para dar respostas simples, como acabar com a violência com mais armas”, alerta o pesquisador.

Pela facilidade de enganar o cidadão, Di Fátima afirma que as notícias falsas ainda serão utilizadas nas próximas eleições brasileiras. “Temos ainda que nos acostumar com esse problema, para que as pessoas saibam identificar rápido o que é fake news. O desenvolvimento do senso crítico é muito lento”, acrescenta.

Maria Silvério/Divulgação

Branco di Fátima afirma que as fake news ainda continuarão a ser utilizadas nas próximas eleições no Brasil

Iluminismo tecnológico

“As novas tecnologias elas empoderaram o cidadão, que antes falava pouco sobre política. Agora, ele está próximo da política e busca um espaço para se afirmar como agente político. Porém, o brasileiro ainda está perdido. Assim como na época do Iluminismo, após uma negação profunda sobre o assunto, agora todo mundo quer subir na mesa e defender seu ponto de vista”, argumenta Branco.

Esse anseio por participar do debate é o que possibilitará a continuação da propagação das notícias falsas. Mesmo com a queda do Facebook, o WhatsApp e o crescimento do Instagram serão as principais ferramentas nas próximas eleições, avalia o jornalista. “O Brasil está pautado no WhatsApp, que tem poder de disseminação grande, enquanto o Facebook perdeu poder e espaço para o Instagram. Além disso, temos que ficar preocupados com a sofisticação que as fake news podem ter, como a Deep Fake, que manipula voz e expressão facial, e já é algo presente em outros países”, adverte.

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