Exclusão

Em inauguração da Casa da Mulher em São Paulo com Damares, entrada de mulheres é barrada

Policiais negam acesso a evento de abertura da instituição, alegando que apenas funcionários e membros da igreja Renascer estavam autorizados a participar do evento nesta segunda (11)

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"Estamos revoltadas. Nós que lutamos pela Casa da Mulher estamos sendo impedidas de entrar", destaca integrante da MMM

São Paulo – Um grupo estimado em 20 mulheres que tentava participar da inauguração oficial da Casa da Mulher Brasileira (CMB) em São Paulo, na manhã desta segunda-feira (11), foi barrado por policiais militares, que cercaram os quarteirões que dão acesso à instituição situada na Rua Viera Ravasco, 26, no bairro do Cambuci, na região central da capital paulista. De acordo com o grupo, por volta das 10h carros da PM cercaram o local e isolaram a entrada com faixas, impedindo a aproximação.

De acordo com a integrante da Marcha Mundial das Mulheres (MMM) Isabel  Luiza Piragibe, os agentes diziam que só poderiam permitir a entrada das pessoas que se identificassem como funcionários, mediante a apresentação de crachá, ou no caso de serem convidados ou membros da Igreja Evangélica Renascer em Cristo. “Estamos revoltadas. Nós que lutamos pela Casa da Mulher estamos sendo impedidas de entrar”, afirma.

Assim como Isabel, as demais mulheres que foram barradas pelos policiais são reconhecidas na luta contra a violência doméstica e pressionavam para que a CMB fosse implementada em São Paulo. A inauguração, no entanto, marcou três anos de atraso para a entrega e funcionamento da obra. A ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos (MMFDH), Damares Alves, participava do evento, assim como o governador João Doria (PSDB), enquanto as mulheres eram barradas do lado de fora.

Para Vera Machado, que também integra a Marcha, a ação tinha como intuito “excluir aqueles que têm postura contrária ao governo”. “Aqui está sendo feito justamente isso. Todas as mulheres que não são da Igreja Renascer, que não são do governo Doria ou Bruno (Covas), estão fora, não podem entrar. É o cúmulo, mas é o que está acontecendo”, critica.

Nas redes sociais, a ministra Damares chegou a postar uma foto na inauguração, acompanhada de sua secretária nacional de Políticas Públicas para Mulheres, Cristiane Britto, destacando a vestimenta de cores das duas que lembravam a bandeira do Brasil. “Pensem numa dupla de Patriotas!”, escreveu. Das ruas, as mulheres aproveitaram para protestar sobre o governo entoando gritos “Damares, sua vigarista, essa Casa é conquista da luta feminista”.

Criada no âmbito do programa “Mulher, viver sem violência”, da Secretaria de Políticas para as Mulheres do governo federal, em 2013, a Casa da Mulher é considerada um importante instrumento para atender mulheres vítimas de agressão. Mas, de acordo com Isabel, além do medo de uma exclusão enviesada, as ativistas também temem que a gestão do PSDB terceirize os serviços da rede de atendimento, como já havia apontado à RBA a ex-secretária municipal de Políticas para as Mulheres de São Paulo Denise Motta Dau.

Segundo dados da  Secretaria de Segurança Pública, a violência contra a mulher vem crescendo em todo o estado. Só neste ano, 227 homicídios dolosos foram contabilizados, mas apenas 37 casos foram tipificados como feminícidio, quando a vítima é assassinada por conta de seu gênero. “Precisamos entender o que está por trás dessa violência”, destaca Isabel.

A RBA questionou o Ministério da Mulher, da Família e dos Diretos Humanos sobre os motivos do bloqueio. A assessoria informou que a responsabilidade pelo evento seria da prefeitura e do governo do estado. A Secretaria de Segurança Pública ainda não comentou o episódio.

 

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