Contradições

Bolsonaro na Vila é irresponsabilidade do Santos com sua própria história, diz líder de torcida

Ida do presidente ao estádio põe em xeque a credibilidade de ações de combate ao racismo desenvolvidas pelo clube

Isac Nóbrega/PR
Isac Nóbrega/PR
'Temos no nosso DNA um histórico de lutas pelas liberdades e pela classe trabalhadora', diz líder da Torcida Jovem

São Paulo – Saudado nos camarotes e vaiado em parte dos setores populares, a visita do presidente Jair Bolsonaro à Vila Belmiro no último sábado (16) durante o clássico entre Santos e São Paulo foi classificada como “irresponsável” pelo diretor da Torcida Jovem, Marcelo Caverna. Conhecido por suas declarações racistas contra negros, quilombolas e indígenas, a presença do presidente também coloca em xeque a credibilidade das próprias ações de combate ao racismo desenvolvidas pelo clube.

No mesmo dia, o time da Vila entrou vestindo uniforme que denunciava nos números das camisas o impacto do racismo em questões como diferença salarial, presença nas universidades e vítimas de homicídios, dentre outros dados alarmantes. A cúpula do clube se defendeu, alegando que não teria partido dela o convite a Bolsonaro. Mas o presidente do Santos, José Carlos Peres, não poupou elogios ao visitante ilustre e disse ter ficado impressionado com a sua “simplicidade e humildade”. Para Caverna, Bolsonaro representa exatamente o contrário dos ideais defendidos pela Torcida Jovem.

“A nossa torcida nasceu na ditadura, em 1969, quando as manifestações populares eram proibidas. Temos no nosso DNA um histórico de lutas pelas liberdades e pela classe trabalhadora. A nossa torcida é quase 100% formada por gente das classes C e D, da classe operária, de mulheres, negros e filhos de índios. Para nós, como entidade que luta pela liberdade há 50 anos, a figura de Bolsonaro representa totalmente o contrário da nossa ideologia”, afirmou em entrevista aos jornalistas Glauco Faria e Marilu Cabañas, para o Jornal Brasil Atual, nesta segunda-feira (18). Os torcedores chegaram inclusive a protocolar um ofício junto à diretoria do clube questionando a ida do presidente.

Além da ação na camisa do time, desenvolvida em parceria com o Observatório da Discriminação Racial no Futebol, o Santos também produziu vídeos de combate ao racismo que contaram com a participação dos rappers Mano Brown, vocalista do Racionais MCs, e Emicida. Segundo o líder da Torcida Jovem, essas ações podem cair em descrédito depois de ações como a da visita de Bolsonaro.

“É mais do que contraditório. Será que essas ações são só de oba-oba, só para aparecer na internet? E na prática, será que é verdade? Se mostrou que não é verdade”, questionou Caverna, para quem a história da escravidão no Brasil ainda é muito recente. “Fomos o último país a abolir a escravidão. A gente ainda sente o cheiro de sangue no ar. É no mínimo irresponsável essa atitude do Santos para com a sua própria história.”

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