Enfrentamento e resistência

Ativistas das Américas e da África se reúnem no Brasil para encontro da Coalizão Negra por Direitos

Primeira edição do evento começa nesta sexta (29) e continua sábado na Ocupação Nove de Julho, região central de São Paulo. Movimentos da África do Sul, Colômbia, Equador e Estados Unidos participam de evento para debater luta antirracista

Memorial da Democracia
Memorial da Democracia
Luta antirracista e pela cidadania plena da população negra é histórica e sempre recebeu respostas violentas das elites

São Paulo – Com mais de 100 entidades, o 1º Encontro Internacional da Coalizão Negra Por Direitos será realizado amanhã e sábado (29 e 30) na Ocupação 9 de Julho, região central de São Paulo, reunindo movimentos da luta antirracista do Brasil, África do Sul, Colômbia, Equador e Estados Unidos. Essa primeira edição marca reflexões e a troca de experiências entre os movimentos negros para a elaboração de uma carta de princípios.

Na programação (confira abaixo), haverá mesas de debate, rodas de conversa que abordam desde a questão do racismo e da resistência à segregação espacial, exercício da cidadania, políticas de drogas, saúde da população negra, feminicídio, LGBTfobia, educação e genocídio. Participam movimentos internacionais como o Black Lives Matter, dos Estados Unidos, Processo de Comunidades Negras (PCN), da Colômbia, além de nomes como a filósofa Sueli Carneiro, a jornalista e escritora Bianca Santana e a fundadora do Movimento Mães de Maio, Débora Maria. Ao todo, 105 organizações estarão reunidas.

“É tão necessário que conseguimos ser uma articulação de 105 organizações, o que é surpreendente, de norte a sul do país e com uma capacidade de capilarização internacional muito forte”, celebra a vice-presidenta do conselho do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), Wania Sant’Anna, em entrevista aos jornalistas Marilu Cabañas e Glauco Faria, da Rádio Brasil Atual. Segundo ela, o encontro marca também a oposição ao chamado pacote anticrime, proposta do ministro da Justiça, Sergio Moro, que tramita no Legislativo.

“Uma pauta que se pretende a dar resposta à segurança pública, mas nós sabemos exatamente que se trata de um autorismo para liquidar e ampliar o genocídio contra a população negra, em especial contra a juventude negra. A Coalização ela se inicia como uma articulação que vai ao Congresso Nacional discutir e enfrentar o chamado pacote anticrime”, ressalta Wania. “Nós sabemos muito bem que tem como plano de fundo a retirada de direitos da população, em especial da população negra.”

Ela destaca ainda que o encontro pauta questões que precisam também serem observadas pela própria esquerda. “Nós não somos um grupo que demanda ou está em uma luta com identidade, nós somos o país. Olhe o que está acontecendo na Colômbia, o que está acontecendo como reação necessária na Bolívia e diga, por favor, para mim, que aquilo é reação de grupo identitário? Ou senão, colocando à sociedade projetos diferenciados de nação, e é isso que a gente quer fazer nestes dois dias de debate aqui em São Paulo. O movimento negro brasileiro e o movimento de mulheres, os negros e negras ativistas neste país têm um projeto de nação”, afirma.

O evento tem vagas limitadas. A a inscrição pode ser feita aqui.

Ouça a entrevista na íntegra

Confira a programação completa

Sexta-feira | 29 
9h – Mesa 1 Abertura: Desafios do enfrentamento ao racismo hoje
Bianca Santana – Uneafro Brasil (SP)
Edson Cardoso – Irohin (BA)
Nilma Bentes – Cedenpa (PA)
Sueli Carneiro – Geledés (SP)
Wania Sant ‘Anna – Ile Omolu Oxum e vice-presidente do Conselho do Ibase (RJ)
Mediação: Selma Dealdina – Coord. Nacional de Comunidades Negras Rurais Quilombolas Conaq (DF)

10h30 – Mesa 2: Conjuntura nacional, internacional e resistência diaspórica
Antonia de Jesus Hurtado Quinonez – Confederación Comarca Afroecuatoriana del Norte de Esmeraldas (Cane) (Equador)
Lucia Xavier – Criola (RJ Brasil)
Phumi Mtetwa – Just Associates – JASS (África do Sul),
Thenjiwe McHarris – Blackbird – The Movement for Black Lives (EUA)
Yannia Sofia Garzon Valencia – Proceso de Comunidades Negras (Colômbia)
Mediação – Ângela Guimarães – Unegro (BA)

14h – Rodas de conversa simultâneas
Roda 1: Terras, territórios, moradia – segregação espacial e cidadania negada
Biko Rodrigues – Conaq (DF)
Danilo Serejo – Movimento de Atingidos pela Base Espacial de Alcântara (MA)
Eliete Paraguassu – Movimento de Pescadoras e Pescadores Artesanais (BA)
Kellen Ferreira – Movimento Sem Teto do Centro (SP)
Koketso Moeti – Amandla Mobi (África do Sul)
Mediação: Pedro Borges – Portal Alma Preta (SP) e Ieda Leal – MNU (SP)

Roda 2: Intersecções do genocídio negro e políticas de drogas
Igo Ribeiro – Gajop (PE)
Ingrid Farias – Rede Nacional de Feministas Antiproibicionistas e Agenda Feminista Antirracista pelo Desencarceramento (PE)
Justin Hansford – Howard University School of Law e Thurgood Marshall Civil Rights Center (EUA)
Miriam Estefânia dos Santos – Grupo de Amigos e Familiares de Pessoas em Privação de Liberdade (MG) Nathália Oliveira – Iniciativa Negra por Uma Nova Política sobre Drogas (SP)
Mediação: Deise Benedito – Ativista do movimento negro (DF)

Roda 3: Saúde da população negra
Baba Diba de Iyemonja – Coord. Nacional da Renafro Saúde e presidente do Conselho do Povo de Terreiro do Estado do Rio Grande do Sul (RS)
Cleber Firmino – NegreX (SP)
Clélia Prestes – Amma Psique (SP)
Zukiswa White – Shayisfuba Feminist Movement (África do Sul)
Mediação: Maria José Menezes – Marcha de Mulheres Negras de São Paulo

16h – Rodas de conversa simultâneas
Roda 4: Racismo religioso
Baba Diba de Iyemonja – Coord. Nacional da Renafro Saúde e Presid. do Conselho do Povo de Terreiro do Estado (RS)
Baba Sidnei Nogueira de Santo – Ocupação Cultural Jeholu (SP)
Daniel Teixeira – Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades – Ceert (SP)
Ekdjy Leonor Araújo – Ilê Omiojuarô /RJ e Núcleo Estadual de Mulheres Negras do Espírito Santo
Maurice Mitchell – Working Families Party (EUA)
Mediação: Daniel Silva – Agentes de Pastoral Negros (SP)

Roda 5: Feminicídio, LGBTfobia e a luta por garantia do direito à vida
Darlah Farias – Coletivo Sapato Preto, Lésbicas Negras Amazônidas, Cedenpa e Rede de Mulheres Negras do Pará (PA)
Leila Regina Lopes – Rede Sapatà e Frente Brasileira de Lésbicas Negras Antirracistas (DF)
Liberty Matthyse – Gender Dynamix (África do Sul)
Neon Cunha – Movimento de Mulheres Negras de São Paulo
Mediação: Beatriz Santos – Coletivo Cara Preta – Recife

Roda 6: Educação e a população negra
Adriano Souza – Uneafro Brasil (SP)
George Roque Braga Oliveira – Instituto Steve Biko (BA)
Leigh-Ann Naidoo – University of the Western Cape (África do Sul)
Lula Rocha – Afirmação Rede Cursinhos (ES)
Renata Prado – Frente Nacional de Mulheres do Funk (SP)
Silvia Souza – Educafro (SP)
Valesca Mota – Ubuntu (SP)
Mediação: Alexandre – Movimento Pré-Vestibular para Negros e Carentes – PVNC (RJ)

Sábado | 30
9h – Mesa 3: Resistências à violência do Estado e ao genocídio negro 
Antônio Francisco da Silva Neto – Instituto Marielle Franco (RJ)
Debora Maria – Mães de Maio
Giselle Florentino – Direito à Memória e Justiça Racial (RJ)
Katiara Oliveira – Rede de Proteção e Resistência ao Genocídio (SP)
Railda Silva – Amparar (SP)
Rute Fiuza – Coletivo de Mães e Familiares de Vítimas do Estado da Bahia
Thenjiwe McHarris – Blackbird, Movement for Black Lives (EUA)
Mediação: Wagner Moreira – IDEAS Assessoria Popular (BA)

10h40 – Mesa 4: Disputa de poder institucional e incidência política
Dulce Pereira – Movimento Negro Unificado MNU (MG)
Edson França – Unegro (SP)
Jesus dos Santos – Nova Frente Negra Brasileira (SP)
Maurice Mitchell – Working Families Party (EUA)
Mônica Oliveira – Articulação Negra do Pernambuco
Rose Torquato – Agentes de Pastoral Negros APNs (RJ)
Sandra Maria – Coord. Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas Conaq-MG
Vilma Reis – Luiza Mahin (BA)
Moderação: Douglas Belchior – Uneafro Brasil (SP)

13h30 – Encaminhamentos e encerramento

Divulgação

Coalização negra por Direitos é também uma resposta ao pacote anticrime de Moro, criticado por impulsionar violência contra população negra

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