Agricultura familiar

MST desiste da Feira da Reforma Agrária neste ano: ‘Com pressão popular vamos conseguir’

Quarta edição da feira da reforma agrária seria em maio, mas governo Doria vetou Parque da Água Branca, onde se realizaram as anteriores. Prefeito Bruno Covas também criou empecilhos

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Na terceira edição da feira, em 2018, mais de 260 mil pessoas consumiram 420 toneladas de produtos, participaram de debates e assistiram apresentações musicais

São Paulo – Depois de várias tentativas de negociação, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) desistiu de realizar neste ano a sua 4ª Feira Nacional da Reforma Agrária, evento que se consolidou no calendário paulistano e encontrou boa receptividade do público.

Empecilhos impostos pelos governos estadual e municipal impediram a organização do evento, mas o coordenador de Produção do MST, Milton Fornazieri, o Rascunho, garante a feira em 2020. “Com a pressão popular, da sociedade de São paulo, vamos conseguir realizar a 4ª Feira”, afirmou, em entrevista ao programa TV 247, apresentado por Dafne Ashton e Andrea Trus.

A primeira edição da feira foi realizada em outubro de 2015. A segunda ocorreu em maio de 2017 e a terceira, em igual mês do ano passado. Recebeu mais de 260 mil pessoas, que consumiram 420 toneladas de produtos e consumiram 75 tipos de pratos típicos de todas as regiões, na área Culinária da Terra.

As três edições foram no mesmo local: o Parque da Água Branca, na zona oeste de São Paulo. E a quarta deveria ser ali, conforme já havia sido acertado com o governo do estado ainda no ano passado, conforme lembra Rascunho.

Segundo ele, em março último começaram os problemas. Primeiro, o MST ouviu que a feira é importante, mas ficou muito grande e a Água Branca não comportava mais. Depois, surgiu a alegação de que o conselho que administra o parque havia sido contra o evento.

Foi feito um protesto no próprio parque, em abril, e seguiram-se meses de tentativas de negociação. Os sem-terra chegaram a adiar a feira para agosto e outubro. “Sempre partindo para o diálogo, a conversação, tentando encontrar caminhos legais”, lembra o dirigente do movimento. O último capítulo envolveu também a prefeitura da capital, mas Rascunho afirmou que depois de um veto ao Ibirapuera foram oferecidos locais que não dispunham de estrutura adequada.

Assim, ao observar que é necessário um tempo de preparação para que os assentamentos se organizem, a direção do MST decidiu pelo adiamento. “Tomamos a decisão de que vamos fazer a feira, sim, em São Paulo, e vamos fazer no melhor lugar possível”, afirmou o coordenador. A primeira opção continuará sendo um parque público, mas o movimento também pode abrir conversas com escolas e outras entidades.

Segundo ele, a Feira da Reforma Agrária resume, em certa medida, o que é produzido nos assentamentos. São mais de 1.200 produtos oferecidos, entre industrializados, semi-industrializados e in natura, vindos de todas as regiões. O evento oferece ainda uma área de alimentação com pratos típicos, além de debates e apresentações musicais.

O dirigente cita políticas públicas que foram sendo implementadas ao longo do anos, como o Plano de Aquisição de Alimentação (PAA) e o Plano Nacional de Alimentação Escolar (Pnae), pelo qual 30% da alimentação nas escolas deve vir da agricultura familiar. Ele lembra que mesmo em São Paulo boa parte da comida servida aos estudante vem de assentamentos do MST e da agricultura familiar, e existe uma meta de torná-la 100% orgânica ou agroecológica.

Enquanto a feira não se realiza, o MST também dispõe do Armazém do Campo, que oferece diversos produtos. Hoje, diz Rascunho, existem estabelecimentos em Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, São Luís e São Paulo. Até o fim do ano, outros serão abertos, em cidades como Aracaju, Brasília, Campo Grande e Cascavel (PR).