Na batalha

Justiça julga nesta quinta pedido de liberdade de Ednalva Franco

Tribunal de Justiça de São Paulo avalia habeas corpus a partir das 14h. Única liderança sem-teto ainda presa já está há 115 dias no cárcere

MSTC
MSTC
Sempre mobilizados por questões sociais, movimentos voltam suas forças a apoiar os mais vulneráveis à pandemia de coronavírus

São Paulo – O Tribunal de Justiça de São Paulo julga, nesta quinta-feira (17), a partir das 14h, o pedido de habeas corpus (HC) da liderança sem-teto Ednalva Franco. É a única ativista pelo movimento de moradia no centro de São Paulo que permanece presa desde 24 de julho.

Formada em Direito, Pedagogia e Teologia, responsável ainda pelo acolhimento de homens e mulheres em situação de rua e militante desde a década de 1990, Ednalva já está em cárcere há 115 dias, pelo mesmo processo arbitrário que levou à prisão Sidnei Ferreira, Janice Ferreira (a Preta) e Angélica dos Santos Lima, acusados de extorsão e agressão no âmbito das investigações decorridas após o desabamento do edifício Wilton Paes Santos, no Largo do Paissandu, em maio de 2018.

Angélica teve liberdade concedida em setembro, enquanto Preta e Sidnei só deixaram a prisão na última semana. Mas, mesmo em liberdade, as três lideranças ainda precisam cumprir medidas restritivas. A advogada Vivian Mendes, em conjunto com os demais advogados do caso, já havia pedido extensão da ordem de liberdade para Ednalva, mas a Justiça postergou o julgamento para esta quinta.

De acordo com Vivian, as acusações que pesam no processo contra a militante são falsas e atendem a interesses políticos com intuito de criminalizar os movimentos sociais. “Ednalva sequer faz parte do grupo que ocupava aquele prédio no Paissandu. Ela é liderança de uma outra ocupação, que fica próxima do local. No dia do incêndio e do desabamento e nos dias seguintes, ela ajudou as famílias que moravam no prédio”, explica a advogada de defesa.

Às vésperas do julgamento do HC, Ednalva recebeu na Penitenciária Feminina de Santana a visita da ex-secretária municipal de Políticas para as Mulheres de São Paulo Denise Dau, da ativista feminista Débora Pereira, da vereadora Juliana Cardoso (PT-SP) e da ex-ministra de Políticas para Mulheres Eleonora Menicucci.

Em visita, ex-ministra Eleonora Menicucci comparou prisão de Ednalva à sua prisão política durante a ditadura civil-militar

Ao repórter Cosmo Silva, da Rádio Brasil Atual, Denise ressaltou o encontro desta quarta-feira (16) em que ficou surpresa com a lucidez da militante sobre seu processo. “Em determinados da visita ela falou ‘olha, embora a prisão seja em meu corpo, em relação a minha pessoa, eu sei que quem estão tentando prender é o movimento por moradia, então eu sei que eu represento muitas pessoas, que é um prisão política, porque não há prova nenhuma, foram várias acusações sem nenhum tipo de prova'”, destacou a ex-secretária sobre a fala da liderança.

Pelas redes sociais, a ex-ministra fez ainda um desabafo sobre a visita a Ednalva, e diz tê-la encontrado “serena, determinada e viscerando coragem e inocência”. Diante da situação da militante, que chorou ao relembrar a forma brutal como foi presa, sendo tirada de seu filho de 14 anos – Ednalva também tem outros dois filhos –, Eleonora  se recordou de imediato de sua prisão política durante a ditadura civil-militar, em que também teve arrancada de seus braços a filha Maria, na época com um ano e 10 meses.

“Essa dor não acaba, se transforma, ressignifica ao longo do tempo, se transforma em força para lutarmos pelos direitos humanos das mulheres e de todo o povo brasileiro”, lembrou a ex-ministra a Ednalva que, de fora, aguarda com expectativa a liberdade da liderança sem-teto.

Leia também

Últimas notícias